XVII – OS VERMES
(...) Catei os próprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roídos por eles.
− Meu senhor, respondeu-me um longo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos; nós roemos.
Não lhe arranquei mais nada. Os outros todos, como se houvessem passado palavra, repetiam a mesma cantilena. Talvez esse discreto silêncio sobre os textos roídos fosse ainda um modo de roer o roído.
(Dom Casmurro, Machado de Assis)
O trecho em questão caracteriza um procedimento metalinguístico do autor. Assinale a afirmação NÃO condizente:
A fala do “verme gordo” pode ser entendida como a total indiferença em relação aos textos escritos.
Transpassa a ideia de que se lê por ler, ou seja, lê-se muitas vezes por obrigação, sem consciência do ato em si.
A expressão “roer o roído” é passível de ser lida, dentro do contexto, como “roer o ruído”, remetendo à produção do silêncio.
A expressão “Passado palavra” remete à alienação mental e à renúncia aos compromissos editoriais.
O trecho pode ser visto também como uma alusão à passagem inexorável do tempo.