Vozes D'África
Castro Alves
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
[...]
Vi a ciência desertar do Egito...
Vi meu povo seguir — Judeu maldito —
Trilho de perdição.
Depois vi minha prole desgraçada
Pelas garras d'Europa — arrebatada —
Amestrado falcão! ...
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos — alimária do universo,
Eu — pasto universal...
Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que se transformara em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.
[...]
Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p'ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
Escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!
Os versos que apresentam a condição de escravo do negro africano são:
“Escuta o brado meu lá do infinito, / Meu Deus! Senhor, meu Deus!”
“Teu sangue não lavou de minha fronte / a mancha original.”
''Hoje de meu sangue a América se nutre / Condor que se transformara em abutre.”
''Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes / Embuçado nos céus?”
“Cristo! Embalde morreste sobre um monte... / Teu sangue não lavou de minha fronte...”