UNIMONTES 2013/2

        VIRAMOS ESCRAVOS DA TECNOLOGIA?

(Por Caroline Mariano e Nina Neres/São Paulo; Lucas Rossi/Estados Unidos)

 

[1]   Nas mudanças comportamentais e sociais que smartphones, softwares, tablets, aplicativos e redes

sociais estão provocando, o trabalho tem um papel central. Talvez o escritório seja o lugar em que as marcas

da tecnologia sejam as mais profundas - tanto as boas quanto as ruins. Uma pesquisa feita em 2012 pelas

consultorias McKinsey e IDC aponta que, nos últimos quatro anos, ferramentas colaborativas aprimoraram a

[5] eficiência de processos corporativos. Das mais de 2000 companhias consultadas pela pesquisa, 74%

afirmam que o acesso ao conhecimento aumentou, 58% declaram ter reduzido custos de comunicação, 40%

conseguiram um aumento na satisfação dos funcionários.

  Mas a tecnologia criou novos problemas profissionais. Um deles, aparentemente simples de resolver,

é a distração. Estamos disponíveis para receber mensagens e estímulos eletronicos o tempo inteiro. Um

[10] estudo da Universidade da Califórnia, campus de Irvine, mostra que profissionais que trabalham em frente

de um computador são interrompidos (ou interrompem-se espontaneamente) a cada trís minutos. Toda vez

que isso ocorre, leva-se até 23 minutos para retomar a tarefa. ''Em uma semana, um profissional distraído

perdeu muitas horas de trabalho'', diz o psiquiatra Frederico Porto, consultor da LHH/DBM, empresa de

recolocação de executivos, de Belo Horizonte. ''Além disso, o desgaste mental de mudar de uma atividade

[15] para outra faz a pessoa ficar muito mais cansada'', diz Frederico.

  A tecnologia também tem efeitos sérios sobre a ansiedade. De acordo com Kelly McGonigal, PhD

em psicologia e professora da escola de negócios da Universidade Stanford, em São Francisco, o sistema de

recompensa do cérebro, o mesmo que nos faz ingerir alimentos para não morrer de fome, se adaptou a era

digital e hoje é carente também da informação. A consequência é sentir necessidade de consumir notícias

[20] como se sente vontade de jantar. Essa avidez por atualização se reflete no trabalho de algumas maneiras. Em

primeiro lugar, ela causa um aumento da insegurança: os profissionais sentem-se na obrigação de estar

disponíveis 24 horas por dia, já que o trabalho não fica mais restrito ao escritório. Além disso, as pessoas

passam mais tempo observando os outros nas redes sociais e fazendo comparações. Com isso, elas deixam

de se medir com o colega para se comparar, no limite, com todos os usuários do LinkedIn, o que pode ser

[25] terrível para a autoestima. O mesmo hábito faz a pessoa conviver com a sensação de ter ficado para trás. A

ansiedade digital levou a Associação de Psiquiatria Americana a incluir a partir deste ano a desordem de uso

da internet no Manual de Transtornos Mentais, espécie de lista das doenças psiquiátricas existentes. ''Trata-

se de um vÌcio, na linha das dependÍncias comportamentais, como comprar ou jogarî, diz Cristiano Nabuco,

coordenador do programa de dependÍncia de internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das ClÌnicas da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

  Uma pesquisa da consultoria de gestão do tempo Triad PS, de São Paulo, com 4100 profissionais,

mostra que 62% das pessoas que admitem adiar atividades o fazem porque se perdem navegando na

internet. O estudo constatou que 25% dos entrevistados gastam até uma hora no trabalho com assuntos

pessoais na web. ''Essas pessoas vão ter de cumprir o serviço alguma hora, o problema é que elas estão

[35] sacrificando também os momentos de praticar atividade física, ler e cuidar da saúde'', diz Christian Barbosa,

diretor da Triad PS e especialista em gestão do tempo, de São Paulo.

  Obviamente, um telefone celular ou um software não podem levar a culpa por esse tipo de

comportamento. O centro do problema está no uso que se faz de aparelhos e aplicativos. ''As pessoas estão

se afastando umas das outras, mas isso não é culpa da tecnologia'', diz Rich Fernandez, diretor de RH do

[40] Google para os Estados Unidos, que compara a tecnologia a um bisturi: pode salvar vidas ou machucar,

depende da capacidade do usuário. ''Seramos ingênuos se achássemos que a tecnologia não tem nenhuma

consequência, mas um aparelho não é viciante. A maneira como você o utiliza é que o torna viciante'', diz

Rich.

  Entre os benefícios da tecnologia, há os que se dizem satisfeitos de poder fazer tudo ao mesmo

[45] tempo (a dita multitarefa). No entanto, do ponto de vista cerebral, isso pode ser estressante e comprometer a

qualidade do trabalho. Estudos da Universidade Stanford mostram que, quanto mais a pessoa se julga

eficiente fazendo várias coisas ao mesmo tempo, pior ela as executa. E, quando for necessário se concentrar

numa ˙nica atividade por longo tempo, a pessoa terá de fazer um esforço maior. ''Para nosso cérebro, não há

multitarefas'', afirma o psiquiatra Cristiano Nabuco, da Universidade de São Paulo. De acordo com ele,

[50] quando tentamos fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, nosso cérebro acaba destinando pouca energia e

atenção a cada tarefa. ''Ser multitarefa é um desejo, mas não é possível. Fazemos muito bem somente uma

coisa por vez. Quando somos multitarefas nos tornamos ineficientes'', diz Rich Fernandez, diretor de RH do

Google nos Estados Unidos.

  O trabalho moderno é conectado. Não dá para escapar. Melhor é ver o lado positivo e cortar o

[55] negativo. No ano passado, o Facebook contratou Dacher Keltner, psicólogo da Universidade da Califórnia

no campus de Berkeley e estudioso de relações humanas, para entender como poderia tornar menos frias as

interações entre os usuários da rede social. A intenção da empresa é incluir, por exemplo, sons nos posts e

comentários. ''A tecnologia pode fazer as relações ficarem mais próximas e os laços mais fortes'', afirma

Dacher. ''Mas sabemos que não há substituto para abraços ou para o olho no olho.''

(Adaptado da revista Você S/A. Março de 2013, p. 29-37.)

Observe a construção dos períodos a seguir:
"No ano passado, o Facebook contratou Dacher Keltner, psicólogo da Universidade da Califórnia no campus de Berkeley e estudioso de relações humanas, para entender como poderia tornar menos frias as interações entre os usuários da rede social. A intenção da empresa é incluir, por exemplo, sons nos posts e comentários." (Linhas 55-58)
Acerca da estrutura dessa construção, aliada a seu contexto, NÃO se pode afirmar:

a

"Entender" é um verbo que deve retomar "Dacher Keltner", a quem é necessária a compreensão das relações humanas virtuais.

b

"Poderia tornar" está integrado a "Facebook", empresa que tem a preocupação de estreitar as relações entre seus usuários.

c

Em "para entender", o termo "para" pode ser substituído por "a fim de", por explicitar a ideia do objetivo do Facebook.

d

A flexão do tempo do verbo poder ("poderia") indica que as soluções acerca dos mecanismos de maior interação nas redes sociais são dependentes de certa condição: o conhecimento desses mecanismos para que eles sejam inclusos.

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B
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