Vida obscura
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
ó ser humilde entre os humildes seres,
embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de alto saberes
tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo.
Mas eu que sempre te segui os passos
seu que cruz infernal prendeu-te os braços
e teu suspiro como foi profundo!
SOUSA, C. Obra completa. Rio DE JANEIRO: Nova Aguilar, 1961.
Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Sousa transpôs para seu lirismo uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se em
sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação.
tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social.
extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes.
frustação amorosa canalizada para as atividades intelectuais.
vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.
Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.