UPF Inverno 2014

Vespertina tropical

Então Deus, tendo acabado de criar o firmamento e os continentes, o homem e a mulher, a zebra, os elétrons, o

umbu e a neblina, quis dar um último toque em Sua obra: num arroubo de lirismo, lá pelas 17h54 do sexto dia, pintou

a aurora boreal. É, de fato, um troço estupendo: mais bonito que o pôr do sol, mais improvável que a girafa, mais

grandioso que o relâmpago. Era pra ser o corolário da criação, a maior atração da Terra, diante da qual casais em

lua de mel deixariam cair os queixos, japoneses ergueriam as câmeras e mochileiros bateriam palmas, contentes

por terem nascido neste planeta abençoado e multicolor, mas, infelizmente, como se sabe, a aurora boreal não

pegou.

Claro: é longe, é raro e é muito cedo, como esses espetáculos incríveis encenados domingo de manhã no Sesc

Belenzinho. Imagina se a aurora boreal fosse nos trópicos, seis e meia da tarde? O sujeito tá num táxi na avenida

Atlântica, olha pro lado, o céu todo verde e amarelo e laranja e roxo, saca o celular, faz um "selfie" [tava louco pra

usar essa palavra], posta "#vespertinatropical!!!" e segue pra casa, satisfeito. Mas não, é pra lá da Groenlândia, 4h30

AM, ninguém sabe quando: aí, não adianta reclamar que o público é ignorante e prefere a caretice hollywoodiana de

um arco-íris.

Fosse só a aurora boreal, beleza, mas a natureza tá cheia de desarranjos semelhantes. Não surpreende: ela foi

criada há milhões de anos, nunca passou por uma revisão e ainda é administrada pelo fundador. Se eu fosse Javé,

chamava uma dessas consultorias especializadas em fazer a transição de empresas familiares para organizações,

digamos, mais competitivas, e dava um choque de gestão. Nem precisa gastar muito, basta alocar melhor os

recursos.

Veja os cometas, por exemplo. Tudo espalhado por aí, nos visitam só a cada 70, cem anos, às vezes chegam de

lado, outras vezes de dia, ninguém vê, baita desperdício de energia. Por que não otimizar essas órbitas? Fazer com

que venham cinco, dez ao mesmo tempo na noite de Réveillon, proporcionando uma queima de fogos global à nossa

sofrida humanidade?

A gravidade é outro assunto que merece uma calibrada: tem que ser mesmo 9,8 m/s2? Por quê? Como Deus

chegou a esse número? Gostaria que Ele abrisse as planilhas para entendermos se cada m/s2 é realmente

necessário. Com metade dessa atração, nós continuaríamos colados ao chão e seria muito mais agradável se

locomover por aí. O mínimo que o Senhor poderia fazer era dar uma amainada de dezembro a março: imagina que

alívio encarar esse calorão com 25% menos esforço, durante a "Gravidade de Verão". Sem falar, óbvio, em 50%

para grávidas, idosos e cadeirantes.

Não tenho dúvida de que o Todo Poderoso resistirá a essas e outras reformas. Criar o Universo é o tipo da coisa

que infla um pouco o ego do sujeito, mas seria bom se Ele se animasse a colocar o mundo nos eixos - literalmente:

já repararam como a Terra gira toda torta, envergada como um frei Damião?

Se meu pacote de sugestões não puder convencê-Lo pelo bom senso, quem sabe ao menos uma parte cutuque

a Sua vaidade? Ora, El Shaddai, a aurora boreal é um negócio tão lindo, tão grandioso, tão divino, não é justo que

siga sendo exibida, ano após ano, apenas para os ursos-polares, as focas e a Björk, é ou não é?

(PRATA, Antonio. Vespertina Tropical. Folha de São Paulo. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2014/02/1406077-vespertina-tropical.shtml. Acesso em 21 mar. 2014)

“O sujeito tá num táxi na avenida Atlântica, olha pro lado, o céu todo verde e amarelo e laranja e roxo, saca o celular, faz um "selfie" [tava louco pra usar essa palavra], posta "#vespertinatropical!!!" e segue pra casa, satisfeito” (linhas 9 a 11).

Considerando o trecho acima, extraído do texto, é correto afirmar que:

a

a construção de um período composto por meio de orações coordenadas possibilita a ordenação dos fatos no tempo, os quais culminam na conclusão positiva da ação.

b

o trecho inserido entre colchetes cumpre função de especificar o sentido do elemento anteriormente citado.

c

os verbos no presente do indicativo denotam que as ações ocorrem no momento em que se narram os fatos.

d

os registros da oralidade presentes no texto configuram-se em uma inadequação ao gênero textual-discursivo.

e

o emprego reiterado da conjunção “e” constrói uma relação de causalidade entre os elementos textuais.

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