Versos a um coveiro
Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!
Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!
Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais
Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!
Fonte: ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
Com base no poema acima e nos conhecimentos acerca da literatura brasileira, assinale a opção incorreta.
Assim como os poetas parnasianos, Augusto dos Anjos tem predileção pelo soneto, de que o texto II é exemplo.
Apesar de escrito em versos, não se evidencia a presença da função poética da linguagem.
Há, no poema, o emprego frequente de palavras consideradas de mau gosto, bem como de palavras de cunho científico.
A morte é um tema muito explorado por Augusto dos Anjos. A visão deste autor, porém, contrasta-se com a do Ultrarromantismo, o qual encara a morte como libertação dos males da vida.
Após a Semana de 22, a chamada Fase Heroica abandona o soneto e adota versos livres e brancos.