Verbo ser
QUE VAI SER quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser: pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. R. Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Não quero ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser. Esquecer.
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
A inquietação existencial do autor com a autoimagem corporal e a sua corporeidade se desdobra em questões existenciais que têm origem
no conflito do padrão corporal imposto contra as convicções de ser autêntico e singular.
na aceitação das imposições da sociedade seguindo a influência de outros.
na confiança no futuro, ofuscada pelas tradições e culturas familiares.
no anseio de divulgar hábitos enraizados, negligenciados por seus antepassados.
na certeza da exclusão, revelada pela indiferença de seus pares.
Análise Detalhada da Questão:
A questão pede para identificar a origem da inquietação existencial do eu lírico no poema "Verbo ser" de Carlos Drummond de Andrade, focando na relação com a autoimagem corporal e a corporeidade.
Passo 1: Leitura e Compreensão do Poema
Leia atentamente o poema. Note que o eu lírico, possivelmente uma criança ou adolescente, reflete sobre a pressão social para "ser" algo quando crescer ("QUE VAI SER quando crescer?"). Ele questiona o próprio significado de "ser", associando-o inicialmente a aspectos físicos e identitários ("É ter um corpo, um jeito, um nome?"). A repetição e a fragmentação ("ser, ser, ser. Er. R.") indicam angústia e dificuldade em definir essa noção.
Passo 2: Identificação do Conflito Central
O conflito central reside na tensão entre a expectativa externa (o que os outros esperam que ele "seja") e a sua própria indefinição ou desejo de não se encaixar em um molde pré-definido. Ele questiona se precisa mudar ("Tenho de mudar quando crescer?"), se é obrigado a escolher ("Sou obrigado a? Posso escolher?"), e, por fim, expressa uma recusa a essa imposição ("Não vou ser. Não quero ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser.").
Passo 3: Conexão com o Enunciado
O enunciado direciona a análise para a "autoimagem corporal" e a "corporeidade". O poema menciona explicitamente "ter um corpo" como parte da definição inicial de "ser". A inquietação sobre "mudar quando crescer", incluindo a possibilidade de usar "outro nome, corpo e jeito", reforça a ligação entre a crise existencial e a percepção do próprio corpo e identidade física/social.
Passo 4: Análise das Alternativas
Passo 5: Conclusão
A alternativa A é a que melhor descreve a origem da inquietação existencial do eu lírico, conectando a pressão externa para se adequar a um padrão (que envolve o corpo e a identidade) com o desejo interno de autenticidade e a recusa em se definir por essas expectativas.
Portanto, a alternativa correta é a A.
Revisão de Conceitos
Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.