(...) Uma tarde surpreendi no oitão da capela [...] Luís Padilha discursando para Marciano e Casimiro Lopes:
- Um roubo. É o que tem sido demonstrado categoricamente pelos filósofos e vem nos livros. Vejam: mais de uma légua de terra, casas, mata, açude, gado, tudo de um homem. Não está certo.
- O senhor tem razão, seu Padilha. Eu não entendo, sou bruto, mas perco o sono assuntando nisso. A gente se mata por causa dos outros. É ou não é Casimiro?
Casimiro Lopes franziu as ventas, declarou que as coisas desde o começo do mundo tinham dono.
- Qual dono! gritou Padilha. O que há é que morremos trabalhando para enriquecer os outros.
(...) Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a pouco, e nunca se revelou inteiramente. A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste.
(...) Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos esbarraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo.
Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu qualidades tão ruins.
(Graciliano Ramos. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1984, pp. 59,60,101,187).
Considerando os fragmentos acima no contexto do romance, analise a afirmativa e conclua.
O romance trata dos grandes latifundiários, ou seja, donos de grandes extensões de terras que se enriquecem apropriando-se do trabalho de pessoas pertencentes às camadas mais pobres da sociedade, sem lhes pagarem o que merecem.