Uma privatização do espaço maior do que aquela proporcionada pelo quarto evidencia-se cada vez mais nos séculos XVII e XVIII. Como as ruelles [espaço entre a cama e a parede], as alcovas são espaços além do leito, longe da porta que dá acesso à sala (ou à antecâmara, nas casas da elite). Thomas Jefferson, tecnólogo do estilo século XVIII, mandou construir uma parede em torno de sua cama a fim de fechar completamente o pequeno cômodo além do leito — cômodo no qual só ele podia entrar, descendo da cama do lado da ruelle.
RANUM, O. Os refúgios da intimidade. In: CHARTIER, R. (Org.). História da vida privada: da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Cia. das Letras, 2009 (adaptado).
A partir do século XVII, a história da casa, que foi se modificando para atender aos novos hábitos dos indivíduos, provocou o(a)
ampliação dos recintos.
iluminação dos corredores.
desvalorização da cozinha.
embelezamento dos jardins.
especialização dos aposentos.
A questão aborda as transformações na arquitetura doméstica e na organização dos espaços internos das casas a partir do século XVII, relacionando-as com mudanças nos hábitos e na noção de privacidade dos indivíduos. O texto fornecido descreve um processo de "privatização do espaço maior", exemplificado pela criação de espaços mais íntimos e reservados dentro das residências.
1. Identificação da Ideia Central do Texto: O texto inicia afirmando que uma "privatização do espaço maior" se evidencia nos séculos XVII e XVIII. Isso significa que espaços dentro da casa passaram a ter um caráter mais privado e pessoal.
2. Análise dos Exemplos: O texto menciona as ruelles (espaço entre a cama e a parede) e as alcovas como exemplos desses novos espaços. São descritos como locais "além do leito, longe da porta", reforçando a ideia de refúgio e intimidade. O exemplo de Thomas Jefferson, que construiu uma parede para isolar um pequeno cômodo acessível apenas por ele, é um caso extremo dessa busca por privacidade e separação.
3. Interpretação do Processo: A criação desses espaços específicos (ruelles, alcovas, o cômodo de Jefferson) dentro da estrutura maior da casa indica que os aposentos estavam ganhando funções mais definidas e delimitadas. Em vez de grandes salas multifuncionais, surgem espaços dedicados à intimidade e ao recolhimento individual.
4. Conexão com o Enunciado: O enunciado pergunta qual mudança na história da casa foi provocada pelos novos hábitos dos indivíduos a partir do século XVII, conforme descrito no texto. A mudança descrita é a criação de espaços mais privados e com funções específicas.
5. Avaliação das Alternativas:
Conclusão: O texto descreve a tendência de criar espaços mais íntimos e reservados dentro das casas, o que corresponde a uma especialização dos aposentos, dedicando áreas específicas para a privacidade individual. Portanto, a alternativa E é a correta.
História da Vida Privada e Arquitetura Doméstica:
A questão se insere no campo da História da Vida Privada, que estuda as transformações nas esferas íntimas, familiares e individuais ao longo do tempo. Nos séculos XVII e XVIII (período moderno), houve uma crescente valorização do indivíduo e da intimidade na Europa Ocidental. Isso se refletiu na arquitetura doméstica, com mudanças na disposição e função dos cômodos. As casas passaram a ter espaços mais definidos e especializados, como quartos de dormir separados, salas de estar, e áreas de serviço distintas, contrastando com a configuração mais comum na Idade Média, onde grandes salões multifuncionais eram frequentes e a privacidade era limitada.
Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.