ENEM 2019

A questão pede para identificar qual atitude feminina é metaforizada no poema "Uma ouriça", de João Cabral de Melo Neto.

1. Leitura e Análise do Poema: O poema constrói a metáfora da mulher como uma "ouriça" (animal que se fecha e se protege com espinhos).

• Estado Inicial (Defesa/Agressividade): Nas primeiras estrofes, a "ouriça" reage à aproximação fechando-se ("convexo integral de esfera"), eriçando-se ("bélica e multiespinhenta"). Sua atitude não é meramente passiva ou defensiva, mas potencialmente agressiva ("sim agressiva", "capaz de bote, de salto [...] para o assalto"). Essa postura inicial demonstra força, resistência, uma forma de proteção intensa, quase bélica. Isso pode ser associado à ideia de tenacidade ou dureza.
• Estado Final (Abertura/Receptividade): Nas últimas estrofes, ocorre uma transformação. Se a aproximação se dá de outra forma ("Se o de longe lhe chega em (de longe)"), ela "se desouriça". A proteção rígida ("o metal hermético e armado") cede lugar à vulnerabilidade e receptividade ("na carne de antes (côncava e propícia)"). A prontidão para o ataque ("as molas felinas (para o assalto)") transforma-se em disposição para a afetividade ("nas molas em espiral (para o abraço)"). Essa mudança revela uma suavização, uma abertura, que pode ser associada à brandura ou ternura.

2. Identificação da Metáfora Central: O poema não descreve apenas uma atitude fixa, mas um processo de transformação. A mulher-ouriça passa de um estado de defesa/agressividade/resistência para um estado de abertura/receptividade/afeto. A metáfora central é essa capacidade de alternar entre a dureza protetora e a suavidade acolhedora.

3. Análise das Alternativas:

• A) tenacidade transformada em brandura: Esta alternativa capta perfeitamente a dinâmica descrita. A "tenacidade" corresponde ao estado inicial da ouriça (fechada, espinhenta, agressiva), e a "brandura" corresponde ao estado final (desouriçada, carne propícia, pronta para o abraço). A palavra "transformada" reflete o processo central do poema.
• B) obstinação traduzida em isolamento: Embora a defesa inicial possa ter traços de obstinação, o resultado final não é isolamento, mas sim abertura e conexão ("abraço").
• C) inércia provocada pelo desejo platônico: O poema descreve ações e reações intensas (fechar-se, eriçar-se, saltar, desouriçar-se), o oposto de inércia. Não há elementos que sugiram desejo platônico.
• D) irreverência cultivada de forma cautelosa: Irreverência não é o foco da atitude descrita. A postura inicial é mais de defesa e potencial agressão do que de desrespeito.
• E) desconfiança consumada pela intolerância: A desconfiança pode motivar a atitude inicial, mas a transformação final leva à aceitação ("propícia", "abraço"), e não à intolerância.

4. Conclusão: A alternativa que melhor sintetiza o conjunto semântico do poema, que descreve a transformação de uma postura defensiva e forte para uma postura aberta e suave, é a letra A.