Uma das vozes centrais da produção brasileira contemporânea, Conceição Evaristo (1946) estreou com o romance Ponciá Vicêncio em 2003. Desde então, publicou outros romances, além de livros de contos, poemas e ensaios. O trecho a seguir é do conto Olhos d’água, do livro homônimo, de 2014.
E naquela noite a pergunta continuava me atormentando. Havia anos que eu estava fora de minha cidade natal. Saíra de minha casa em busca de melhor condição de vida para mim e para minha família: ela e minhas irmãs tinham ficado para trás. Mas eu nunca esquecera a minha mãe. Reconhecia a importância dela na minha vida, não só dela, mas de minhas tias e de todas as mulheres de minha família. E também, já naquela época, eu entoava cantos de louvor a todas nossas ancestrais, que desde a África vinham arando a terra da vida com as suas próprias mãos, palavras e sangue. Não, eu não esqueço essas Senhoras, nossas Yabás, donas de tantas sabedorias. Mas de que cor eram os olhos de minha mãe?
(EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas; Fundação Biblioteca Nacional, 2014. p. 18)
Sobre o trecho apresentado e sobre a produção literária de Conceição Evaristo, afirma-se:
I. A narração em 1ª pessoa e a afirmação da identidade afro-brasileira conferem voz e protagonismo a figuras tradicionalmente sub-representadas ou retratadas de forma marginal ao longo da história da literatura brasileira.
II. A interrogação sobre a cor dos olhos da mãe, que atormenta a narradora, permite inferir sua incapacidade de estabelecer vínculos reais.
III. A transmissão da memória através das gerações, a partir de narradoras e personagens negras e pobres, é uma questão recorrente nos livros da autora.
Está/Estão correta(s) apenas a(s) afirmativa(s)
I.
II.
I e III.
II e III.