TREM DE FERRO
Manuel Bandeira
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô..
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
Que vontade
De cantar!
Oô…
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficia
Ôo…
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Ôo…
Vou mimbora voou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Ôo…
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente…
No que tange à sonoridade, fator determinante no poema, encontre a afirmativa CORRETA:
A repetição de “muita força”, por exemplo, se dá em um ritmo de leitura mais rápido, como se representasse o deslocamento por um trajeto elevado, daí a necessidade de mais fogo na fornalha.
As ocorrências de “passa ponte/ passa poste/ passa pasto”, entre outros, transmite a idéia de que um deslocamento mais lento foi retomado e que o trem passa ligeiramente pela paisagem.
A repetição de sons vocálicos parece reproduzir um apito de vapor nos versos “Ôo..”, nos quais o próprio arredondamento dos lábios necessário à emissão do som, lembra um movimento de sono.
Nos últimos versos “pouca gente/ pouca gente” a entonação enfraquece como se o trem fosse e as reticências servem para reforçar este pensamento.