Trecho I - retirado de Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente (os parênteses representam informações sobre o texto ou sinônimos)
DIABO: Quem vem aí? Oh! Santo sapateiro honrado, Como vens tão carregado!...
SAPATEIRO: Mandaram-me vir assim... (cheio de objetos (*) Os objetos que as personagem carregam representam os pecados que cometeram em vida.]
E para onde é a viagem?
DIABO: Para o lago dos danados.
SAPATEIRO: E os que morrem confessados, Onde têm a sua passagem?
DIABO: Não digas tais linguagem! Esta é a tua barca, esta!
(...)
Tu morreste excomungado! Mesmo sem o saberes. O que esperavas depois de viver, Fazendo dois mil engano… Tu roubaste em trinta anos, O povo com a tua mestria. (com o teu oficio) Embarca, esta barca é para ti, Que há já muito que te espero!
SAPATEIRO: Pois digo-te que não quero!
DIABO: Mas hás de ir, sim, sim!
SAPATEIRO: Quantas missas eu ouvi... Não me hão elas de agora prestar? (valer)
DIABO: Ouvir missa, depois roubar... É caminho para aqui.
SAPATEIRO: E as ofertas que servirão? (as esmolas) E as horas dos finados?
DIABO: E os dinheiros mal cobrados, Que foi da tua satisfação?
Trecho II - Retirado de Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna
,PADEIRO: Que história é essa? Então Vossa Senhoria pode benzer o cachorro do major Antônio Morais e o meu não?
PADRE, apaziguador: Que é isso, que é isso?
PADEIRO: Eu é que pergunto: que é isso? Afinal de contas eu sou presidente da Irmandade das Almas, e isso é alguma coisa.
JOÃO GRILO: É, padre, o homem aí é coisa muita. Presidente da Irmandade das Almas! Para mim isso, é um caso claro de cachorro bento. Benza logo o cachorro e tudo fica em paz.
PADRE: Não benzo, não benzo e acabou-se! Não estou pronto para fazer essas coisas assim de repente. Sem pensar, não.
MULHER, furiosa: Quer dizer, quando era o cachorro do major, já estava tudo pensado, para benzer o meu é essa complicação! Olhe que meu marido é presidente e sócio benfeitor da Irmandade Almas! Vou pedir a demissão dele!
Ao analisar os personagens que aparecem nos trechos citados, conclui-se que:
São verdadeiras alegorias dos pecados humanos satirizados pelo texto. Os autores expõem esse tipo de conduta como forma de crítica de valores da sociedade, esperando, com isso, criar uma reflexão no leitor/plateia.
Eles são sujeitos únicos, singulares, com problemas e vivências de exceção. Os autores pretendem criar um estranhamento no leitor/plateia, que verá um mundo novo, totalmente regido pela imaginação.
Representam o ideal romântico da inocência e da lealdade. Os autores criam esse tipo de personagem como inspiração para os leitores/ a plateia.
São inspirados em pessoas reais, alterando-se apenas os nomes. Os autores envolveram-se em conflitos pessoais e escreveram as peças para denunciar o caso à sociedade.
São variações de novelas de cavalaria medievais, adaptadas aos leitores do século XXI. Os autores quiseram recuperar lendas e mitos antigos da cultura europeia.