Trecho I
“— O meu nome é Severino, / como não tenho outro de pia. /
Como há muitos Severinos, / que é santo de romaria, / deram
então de me chamar / Severino de Maria; / como há muitos
Severinos / com mães chamadas Maria, / fiquei sendo o da
Maria / do finado Zacarias. // Mais isso ainda diz pouco: / há
muitos na freguesia, / por causa de um coronel / que se
chamou Zacarias / e que foi o mais antigo / senhor desta
sesmaria. // Como então dizer quem falo / ora a Vossas
Senhorias? / Vejamos: é o Severino / da Maria do Zacarias, /
lá da serra da Costela, / limites da Paraíba. // Mas isso ainda
diz pouco: / se ao menos mais cinco havia / com nome de
Severino / filhos de tantas Marias / mulheres de outros tantos, /
já finados, Zacarias, / vivendo na mesma serra / magra e
ossuda em que eu vivia.”
CABRAL MELO NETO, João. Morte e Vida Severina. Disponível em:file:///C:/Users/Ricardo/Downloads/MORTE%20E%20VIDA%20SEVERINA%20-%20JOAO%20CABRAL%20DE%20MELO%20NETO.PDF. Acesso em: 20nov. 2018.
Trecho II
“E precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano, matar
cabras a mão de pilão, trazer uma faca de ponta à cintura. Ia
crescer, espichar-se numa cama de varas, fumar cigarros
de palha, calçar sapatos de couro cru.”
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 53. ed. São Paulo: Record, 1984, p.52
Os trechos destacados sugerem uma realidade que é típica do sertão nordestino e que pode ser uma das causas do ciclo que faz com que a população não procure meios de progredir social e economicamente.
A alternativa que melhor expressa a afirmativa é
A violência atinge as populações da baixa renda fazendo com que o sonho de futuro seja o anonimato ou o porte de armas de defesa.
O analfabetismo típico das regiões de caatinga empurra o cidadão para a capital, onde certamente as oportunidades são maiores no mercado de trabalho.
A falta de perspectivas de escolaridade faz com que os sertanejos sigam sinas semelhantes: muitos indivíduos não saem de sua estagnação social.
O desemprego atinge a todos na caatinga, deixando apenas a fome como consequência.
O desamparo dos sertanejos é consequência de uma política de segregação.
Passo 1 – Leitura Atenta: Leia os dois trechos sem pressa. Observe que ambos se referem a jovens do sertão nordestino e revelam aspectos de sua realidade cotidiana.
Passo 2 – Identificação do Tema Central: Note que o Trecho I mostra a condição de anonimato e repetição de nomes (falta de identidade própria) e o Trecho II expressa o desejo de crescer apenas para assumir papéis já predeterminados (matar cabras, fumar cigarros de palha), sem perspectiva de mudança social.
Passo 3 – Interpretação do Ciclo Social: Os trechos sugerem que, no sertão, a carência de oportunidades (educação, acesso a outros ofícios) faz com que gerações sigam destinos semelhantes, sem progresso social nem econômico.
Passo 4 – Análise das Alternativas: Confrontando esse tema com cada opção, verifique qual delas retrata exatamente a falta de perspectivas de escolaridade e a consequente estagnação social.
Passo 5 – Escolha da Alternativa Correta: A alternativa C afirma: "A falta de perspectivas de escolaridade faz com que os sertanejos sigam sinas semelhantes: muitos indivíduos não saem de sua estagnação social." Esse enunciado sintetiza precisamente o que os textos mostram.
1. Interpretação de Texto: Técnica de extrair ideias principais e inferir informações implícitas.
2. Inferência de Causa e Efeito: Identificar como a ausência de educação e oportunidades gera repetição de ciclos sociais.
3. Contexto Sociocultural: Compreender o sertão nordestino como região de recursos escassos, onde a educação é porta de saída.