Todos os romances de Graciliano Ramos são tentativas de destruição: tentativas de “acabar com a minha memória”, tentativas de dissolver as recordações pelos “estranhos hiatos” dum sonho angustiado. Surge o clichê de que Graciliano teria sido, na mocidade, um “sertanejo culto”: e sugere aos críticos a ideia de que o romancista está furioso contra o ambiente selvagem de seu passado. Mas não é assim. Não é o sertão o culpado: Vidas secas
é o seu romance relativamente mais sereno, relativamente mais otimista. O culpado é − superficialmente visto numa primeira aproximação − a cidade. O herói de Graciliano Ramos é o sertanejo desenraizado, levado do mundo primitivo para o mundo do movimento. Em São Bernardo, o fazendeiro Paulo Honório consegue seu objetivo e, contudo, é uma vida malograda. Por quê? Porque seu criador quer mais que terra, casa, dinheiro, mulher. Quer realmente voltar aos avós. Voltar à imobilidade, à estabilidade do mundo primitivo.
(Adaptado de: CARPEAUX, Otto Maria. Visão de Graciliano Ramos. Apresentação a Angústia. Rio de Janeiro: Martins, 1970, 12. ed., p. 14)
É procedente a afirmação de que Vidas secas é o romance relativamente mais otimista de Graciliano Ramos porque, nele,
o narrador se dispõe a contar sua própria história de um modo bastante sereno.
o fazendeiro protagonista reelabora suas convicções alimentado pelas causas socialistas.
Fabiano e sua família retomam uma jornada cujo destino está aberto.
Sinhá Vitória encarna uma clássica militante de teses revolucionárias.
o fenômeno da migração é retratado com tintas amenas e sentimentalismo lírico.