Todos os romances de Graciliano Ramos são tentativas de destruição: tentativas de “acabar com a minha memória”, tentativas de dissolver as recordações pelos “estranhos hiatos” dum sonho angustiado. Surge o clichê de que Graciliano teria sido, na mocidade, um “sertanejo culto”: e sugere aos críticos a ideia de que o romancista está furioso contra o ambiente selvagem de seu passado. Mas não é assim. Não é o sertão o culpado: Vidas secas
é o seu romance relativamente mais sereno, relativamente mais otimista. O culpado é − superficialmente visto numa primeira aproximação − a cidade. O herói de Graciliano Ramos é o sertanejo desenraizado, levado do mundo primitivo para o mundo do movimento. Em São Bernardo, o fazendeiro Paulo Honório consegue seu objetivo e, contudo, é uma vida malograda. Por quê? Porque seu criador quer mais que terra, casa, dinheiro, mulher. Quer realmente voltar aos avós. Voltar à imobilidade, à estabilidade do mundo primitivo.
(Adaptado de: CARPEAUX, Otto Maria. Visão de Graciliano Ramos. Apresentação a Angústia. Rio de Janeiro: Martins, 1970, 12. ed., p. 14)
A valorização da tecnologia, do contínuo desenvolvimento do progresso, em oposição ao atraso, à imobilidade, fez parte da propaganda política das potências que encabeçaram a Guerra Fria. Dentre as diversas formas de disputa e de afirmação da superioridade militar e tecnológica de cada uma das potências em questão, podemos citar,
a corrida espacial que estimulou o envio de foguetes para que o primeiro homem pisasse na lua, façanha realizada por Yuri Gagarin, seguida de outras conquistas que deram larga margem de vantagem à URSS nessa disputa.
a crise dos mísseis, sucessão de ameaças de ataque nuclear na Turquia, em Cuba e na Califórnia, durante os anos de 1960, refreadas graças às intervenções emergenciais da ONU e ao apelo de diversos estadistas e de movimentos pacifistas.
o desenvolvimento e sucessivos testes com bombas atômicas, que resultaram em acidentes trágicos para a humanidade, como os desastres sentidos em Hiroshima, Nagasaki e Chernobyl.
os acordos de cooperação e ajuda mútua que vigoraram por meio da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), no bloco capitalista, e do Pacto de Varsóvia, no bloco socialista.
as guerras químicas e bacteriológicas empregadas em países do Terceiro Mundo, como Chile, Afeganistão e Vietnã, que levaram as duas potências ao banco dos réus em Tribunais Internacionais, com grande repercussão na mídia.