TEXTO
Zuenir Ventura, um dos mais conceituados jornalistas do país, é autor das obras 1968: o ano que
não terminou e 1968: o que fizemos de nós. Neste, lançado vinte anos depois do primeiro, o autor
faz um contraste da geração de 68 com a de seus filhos e a de seus netos. Conheça um pouco
mais suas ideias nesta entrevista a Luiz Costa Pereira Júnior.
[5] Para você, 68 é um ser, não um ano. Como descreve esse personagem?
A de 68 foi a última geração literária, a que aprendeu lendo, não vendo. Diria que é personagem
autocentrado, com onipotência e um voluntarismo, que não são seus traços mais simpáticos. E
generoso. Talvez a última geração que se entregou a uma causa coletiva, arriscando a pele.
Em que difere seu segundo livro do anterior sobre 68?
[10] Tive o cuidado de falar sobre os filhos e netos de 68 sem olhar saudosista. Não vivo no passado, o
passado vive em mim, como diz o compositor e músico Paulinho da Viola. Muitos têm uma visão
idealizada da época. Que foi tudo maravilhoso e tal. Mas houve coisas tão ruins quanto boas.
É possível generalizar o que toda uma geração pensa?
O antropólogo Gilberto Velho diz algo fantástico. Quando falamos do que é típico de uma geração
[15] estamos falando do que lhe é “emblemático”. A marca de um grupo nem sempre é compartilhada
pelo conjunto, mas é representativa. Havia uma minoria no “espírito de 68”, mas muito ativa, que
vocalizou uma vontade mais ampla. Sempre tomamos o todo de uma geração pela parte.
Em que sentido a atual seria uma geração “oximora”, como diz seu livro?
Oximoro é o encontro de palavras que deveriam se excluir, mas não se anulam, como “gritos
[20] silenciosos”. A geração de hoje é assim. Individualista e festiva. Quer prazer e controle corporal. A
gente fica criticando, que ela só pensa no aqui e agora, mas tudo para ela é instável. Em cinquenta
anos, quando tiverem minha idade, não terão tanta água e ar. É uma geração sem garantia de futuro.
A imprensa perde público, não só para TV e internet. É falta de credibilidade?
Sou crítico à imprensa. Há desrespeito, falta de tempo, invasão de privacidade, compulsão de dar
[25] furo antes de apurar direito e, sobretudo, julgamento precipitado. Julgamos, mas sem a paciência
da Justiça. A imprensa criou mecanismos de autocrítica pois estava perdendo leitores. Uma das
coisas ruins do texto de mídia é o excesso de informação. E excesso é ruído. O desafio não é mais
obter informação, mas interpretá-la.
Quanto o levantamento da informação define o jeitão que um texto assume?
[30] Em desenho industrial há a máxima de que “a forma segue a função”. A categoria de beleza de um
objeto se dá por ele cumprir a função para a qual foi criado. No jornalismo, o principal é a função:
informar. Tudo se subordina a isso. Mas a diferença do jornalismo para uma linguagem só funcional,
burocrática como relatório, é a pretensão estética, o que não é fácil.
Adaptado de Revista Língua Portuguesa, maio de 2008.
A imprensa criou mecanismos de autocrítica pois estava perdendo leitores. (l. 26)
A relação de sentido estabelecida entre as ideias presentes na frase acima também é encontrada na seguinte reelaboração:
Caso perca leitores, a imprensa criará mecanismos de autocrítica.
Já que perderia leitores, a imprensa criou mecanismos de autocrítica.
À medida que perde leitores, a imprensa cria mecanismos de autocrítica.
Embora perdesse leitores, a imprensa criaria mecanismos de autocrítica.