UEFS Caderno 1 2014/2

TEXTO:

 

  Zé Brasil era um pobre coitado. Nasceu e sempre
viveu em casebres de sapé e barro, desses de chão
batido e sem mobília nenhuma... Nem cama tinha. Livros,
só folhinhas – para ver as luas e se ia chover ou não, e
[5] aquele livrinho do Fontoura com a história do Jeca Tatu.
Coitado desse Jeca! dizia Zé Brasil, olhando para aquelas
figuras. Tal qual eu. Tudo que ele tinha, eu também tenho.
  A vida de Zé Brasil era a mais simples. Levantar de
madrugada, tomar um cafezinho ralo (“escolha” com
[10] rapadura), com farinha de milho (quando tinha) e ir para
a roça pegar no cabo da enxada. O almoço ele o comia
lá mesmo, levado pela mulher; arroz com feijão e farinha
de mandioca, às vezes um torresmo ou um pedacinho
de carne seca para enfeitar. Depois cabo da enxada
[15] outra vez, até a hora do café do meio-dia. E novamente
a enxada, quando não a foice ou o machado. A luta com
a terra sempre foi brava.
  A gente da cidade – como são cegas as gentes
das cidades!... Esses doutores, esses escrevedores nos
[20] jornais, esses deputados, paravam ali e era só crítica:
vadio, indolente, sem ambição, imprestável... não havia
o que não dissessem do Zé Brasil. Mas ninguém punha
atenção nas doenças que derreavam aquele pobre
homem – opilação, sezões, quanta verminose há,
[25] malária. E cadê doutor? Cadê remédio? Cadê jeito? O

jeito era sempre o mesmo: sofrer sem um gemido e
ir trabalhando doente mesmo, até não aguentar mais e
cair como cavalo que afrouxa. E morrer na velha
esteira – e feliz se houver por ali alguma rede em que o
[30] corpo vá para o cemitério, senão vai amarrado com cipó.
  Mas você morre, Zé, e sua alma vai para o céu,
disse um dia o padre – e Zé duvidou. Está aí uma coisa
que só vendo! Minha ideia é que nem deixam minha alma
entrar no céu. Tocam ela de lá, como aqui, na vida, o coronel
[35] Tatuíra já me tocou das terras dele.
LOBATO. Monteiro. In: LAJOLO, Marisa (org.). Literatura Comentada. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 123. Adaptado.

Monteiro Lobato, na construção da figura de “Zé Brasil”, ressignifica a imagem da personagem-símbolo “Jeca Tatu”, que é apresentado como preguiçoso, indolente. Essa visão traduzia o lugar ideológico do Monteiro Lobato fazendeiro, descontente e decepcionado com o insucesso de suas iniciativas agrícolas nas terras já esgotadas, herdadas do avô.

 

A principal mudança na percepção de Monteiro Lobato em relação ao homem do campo é percebida por meio da tese de que Zé Brasil,

a

assim como Jeca Tatu, é preguiçoso e conformado com o lugar social que lhe é reservado socialmente.

b

de maneira oposta a Jeca Tatu, ambiciona e busca seu progresso por meio da compreensão da cultura rural. 

c

ao contrário de Jeca Tatu, personagem construída com objetivo específico, é visto como produto da própria sociedade excludente e preconceituosa. 

d

diante de sua própria realidade, não aceita a condição de miséria em que Jeca Tatu vivia e se propõe a reverter a situação do homem caipira em algum momento.

e

diferentemente de Jeca Tatu, compreende as engrenagens sociais em que está inserido e, assim como as pessoas da cidade, luta em prol de melhores condições de sobrevivência.

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C
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