TEXTO
VIVEMOS O FIM DO MUNDO
Luis Antônio Giron
(...) Bauman é autor do conceito de
“modernidade líquida”. Com a ideia de “liquidez”, ele tenta
explicar as mudanças profundas que a civilização vem
sofrendo com a globalização e o impacto da tecnologia da
[5] informação. Nesta entrevista, ele fala sobre como a vida,
a política e os padrões culturais mudaram nos últimos 20
anos. As instituições políticas perderam representatividade
porque sofrem com um “déficit perpétuo de poder”. Na
cultura, a elite abandonou o projeto de incentivar e
[10] patrocinar a cultura e as artes. Segundo ele, hoje é moda,
entre os líderes e formadores de opinião, aceitar todas as
manifestações, mas não apoiar nenhuma.
(...)
ÉPOCA – As redes sociais aumentaram sua
[15] força na internet como ferramentas eficazes de
mobilização. Como o senhor analisa o surgimento de
uma sociedade em rede?
Bauman – Redes, você sabe, são interligadas,
mas também estão descosturadas e remendadas por
[20] meio de conexões e desconexões... As redes sociais
eram atividades de difícil implementação entre as
comunidades do passado. De algum modo, elas
continuam assim dentro do mundo off-line. No mundo
interligado, porém, as interações sociais ganharam a
[25] aparência de brinquedo de crianças rápidas. Não parece
haver esforço na parcela on-line, virtual, de nossa
experiência de vida. Hoje, assistimos à tendência de
adaptar nossas interações na vida real (off-line), como se
imitássemos o padrão de conforto que experimentamos
[30] quando estamos no mundo on-line na internet.
ÉPOCA – Os jovens podem mudar e salvar o
mundo? Ou nem os jovens podem fazer algo para
alterar a história?
Bauman – Sou tudo, menos desesperançoso.
[35] Confio que os jovens possam perseguir e consertar o
estrago que os mais velhos fizeram. Como e se forem
capazes de pôr isso em prática, dependerá da imaginação
e da determinação deles. Para que se deem uma
oportunidade, os jovens precisam resistir às pressões da
[40] fragmentação e recuperar a consciência da responsabilidade
compartilhada para o futuro do planeta e seus habitantes.
Os jovens precisam trocar o mundo virtual pelo real.
ÉPOCA – O senhor afirma que as elites
adotaram uma atitude de máximo de tolerância com o
[45] mínimo de seletividade. Qual a razão dessa atitude?
Bauman – Em relação ao domínio das escolhas
culturais, a resposta é que não há mais autoconfiança
quanto ao valor intrínseco das ofertas culturais
disponíveis. Ao mesmo tempo, as elites renunciaram às
[50] ambições passadas, de empreender uma missão
iluminadora da cultura. A elite deixou de ser o mecenas
da cultura. Hoje, as elites medem sua superioridade
cultural pela capacidade de devorar tudo.
(...)
[55] ÉPOCA – Como diz o crítico George Steiner,
os produtos culturais hoje visam ao máximo impacto
e à obsolescência instantânea. Há uma saída para
salvar a arte como uma experiência humana
importante?
[60] Bauman – Bem, esses produtos se comportam
como o resto do mercado. Voltam-se para as vendas de
produtos na sociedade dos consumidores. Uma vez que a
busca pelo lucro continua a ser o motor mais importante
da economia, há pouca oportunidade para que os objetos
[65] de arte cessem de obedecer à sentença de Steiner...
(...)
(Revista Época nº 819, 10 de fevereiro de 2014, p.68 – 70)
Das respostas dadas por Bauman, só NÃO podemos depreender que
o comportamento cultural da elite pauta-se hoje na indiferenciação dos objetos culturais.
as relações virtuais aparentam ser mais fáceis e agradáveis que as interações na vida real.
o advento da internet permite uma conexão sempre fácil e eficiente entre as redes sociais.
a arte poderia ser salva, desde que deixasse de se comportar como uma mercadoria regida pelas regras do mercado.