TEXTO:
Versos íntimos
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!
[5] Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
[10] O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Anjos, Augusto dos. Versos íntimos, Disponível em: https://www.escritas.org/pt/t/12236/versos-intimos. Acesso em: 17 nov. 2018.
Analisando-se a primeira estrofe, pode-se afirmar que
justas homenagens ao final da vida são necessárias.
a única presença, nos momentos finais, são os sonhos que se acalentam durante a vida.
a “pantera” (v. 3) metaforiza o sorrateiro, o inesperado e constante sentimento de ilusão.
há um interlocutor impercebível e distante que se comprova pela falta de registro verbal.
a ingratidão é uma falsa ideia que se desmitifica à hora da morte.