TEXTO
Vagabundo
Eat, drink, and love; what can the rest avail us?
Byron — Don Juan
Eu durmo e vivo no sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso;
Nas noites de verão namoro estrelas;
Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas,
E quem vive de amor não tem pobreza.
Não invejo ninguém, nem ouço a raiva
Nas cavernas do peito, sufocante,
Quando à noite na treva em mim se entornam
Os reflexos do baile fascinante.
Namoro e sou feliz nos meus amores;
Sou garboso e rapaz... Uma criada
Abrasada de amor por um soneto
Já um beijo me deu subindo a escada...
Oito dias lá vão que ando cismado
Na donzela que ali defronte mora.
Ela ao ver-me sorri tão docemente!
Desconfio que a moça me namora!...
Tenho por meu palácio as longas ruas;
Passeio a gosto e durmo sem temores;
Quando bebo, sou rei como um poeta,
E o vinho faz sonhar com os amores.
O degrau das igrejas é meu trono,
Minha pátria é o vento que respiro,
Minha mãe é a lua macilenta,
E a preguiça a mulher por quem suspiro.
Escrevo na parede as minhas rimas,
De painéis a carvão adorno a rua;
Como as aves do céu e as flores puras
Abro meu peito ao sol e durmo à lua.
Sinto-me um coração de lazzaroni;
Sou filho do calor, odeio o frio,
Não creio no diabo nem nos santos...
Rezo a Nossa Senhora e sou vadio!
Ora, se por aí alguma bela
Bem doirada e amante da preguiça
Quiser a nívea mão unir à minha
Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.
(AZEVEDO, Álvares de. Melhores poemas. 6. ed. 1. reimpr. São Paulo: Global, 2008. p.71 -73.)
No Texto, o poeta se confessa um “vadio” a perambular pelas ruas e aproveitar livremente o tempo. No Brasil, após a Revolução de 30, a propaganda estatal do governo Vargas buscou apagar a imagem popular do malandro, substituindo-a pela do trabalhador honesto.
Assinale a alternativa em que a letra da canção demonstra essa apologia ao trabalho:
“Os home tá cá razão / Nóis arranja outro lugar / Só se conformemo / Quando o Joca falou / Deus dá o frio conforme o cobertô / E hoje nós pega a paia / Nas grama do jardim / E pra esquecer nóis cantemos assim / Saudosa maloca, maloca querida / Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossa vida” (Saudosa maloca – Adoniran Barbosa).
“Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa / Uma boa média que não seja requentada / Um pão bem quente com manteiga à beça / Um guardanapo e um copo d'água bem gelada / Feche a porta da direita com muito cuidado / Que não estou disposto a ficar exposto ao sol / Vá perguntar ao seu freguês do lado / Qual foi o resultado do futebol” (Conversa de botequim – Noel Rosa).
“Antigamente eu não tinha juízo / Mas hoje eu penso melhor no futuro / Graças a Deus sou feliz / Vivo muito bem / A boemia não dá camisa a ninguém / Passe bem!” (O bonde de São Januário – Wilson Batista).
“No rancho fundo, bem pra lá do fim do mundo / Nunca mais houve alegria nem de noite nem de dia / Os arvoredos já não contam mais segredos / E a última palmeira já morreu na cordilheira / Os passarinhos internaram-se nos ninhos / De tão triste esta tristeza enche de trevas a natureza / Tudo por quê? Só por causa do moreno / Que era grande, hoje é pequeno para uma casa de sapê” (No rancho fundo – Lamartine Babo).