TEXTO
Tratado geral das grandezas do ínfimo
A poesia está guardada nas
palavras – é tudo o que sei.
Meu fado é o de não saber quase
tudo.
Sobre o nada eu tenho
profundidades.
Não tenho conexões com a
realidade.
Poderoso para mim não é aquele
que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que
descobre as insignificâncias (do
mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me
elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.
(Manoel de Barros, Tratado geral das grandezas do ínfimo, disponível em: http://www.revistabula.com/2680-os-10- melhores-peomas-de-manoel-de-barros/ Acessado em: 09 set. 2017 )
No texto para o eu-lírico, ser chamado de imbecil foi um elogio.
Sua justificativa para ter se sentido lisonjeado é:
O fato de que o eu-lírico é bastante racional e tem os pés fincados na realidade.
O fato de que o eu-lírico sabe muito sobre tudo.
O fato de acreditar que poderosa é a pessoa que descobre grandes riquezas.
O fato de acreditar que poderosa é aquela pessoa que desvenda as pequenas coisas do mundo e dos outros.
O fato de que o eu-lírico gosta muito de receber elogios.