TEXTO:
Transcrição de diálogo do filme ELE ESTÁ DE VOLTA, entre Hitler (H) e Sawatzki (S). Sawatzki mantém Hitler sob a mira de um revólver e o ameaça, dirigindo-o para a beirada do pátio de um edifício alto.
H – Sawatzki? [vira-se para trás e vê Sawatzki que lhe aponta um revólver]. Você demorou de responder...
S – É você... Você é ele!...
H – Nunca disse o contrário. Acho que meu destino é me despedir de meus leais companheiros de trabalho.
S – Por ali [indica uma porta que dá acesso ao pátio superior de um edifício]. A história está se repetindo. Está enganando as pessoas com seus discursos.
H – Ah, Sawatzki, você não entende. Em 1933, ninguém precisou de discurso nenhum. O povo elegeu um líder que deixou claro para todos quais eram seus planos. Os alemães me elegeram...
S – [Encaminha-o, apontando o revólver, para a beirada do prédio]. Continue... Você é um monstro!
H – Sou? Então é melhor culpar também aqueles que elegeram esse monstro. Eles todos eram monstros? Não, eram pessoas normais... Que escolheram eleger alguém diferente dos outros, para confiarem o destino de seu país. O que vai fazer, Sawatzki? Impedir as eleições?
S – Não, mas vou impedir você...
H – Nunca se perguntou por que as pessoas me seguem? Porque, no fundo, elas são como eu. Têm os mesmos princípios. E é por isso que você não vai atirar...
[Sawatzki atira]
ELE ESTÁ DE VOLTA. Direção de David Wnendt. Intérpretes: Oliver Masucci, Fabian Busch, Thomas Köppl e outros. Alemanha, 2015. Baseado no livro Er Ist Wieder Da, de Timur Vermes.
Na cena transcrita, frente ao julgamento que dele faz o personagem Sawatzki, o personagem Hitler reage do seguinte modo:
Considera os argumentos de seu interlocutor superficiais e improcedentes pelo fato de não serem baseados em fatos reais, e sim em alucinações, uma vez que Sawatzki estava em tratamento psiquiátrico, usando drogas muito fortes.
Argumenta que seu interlocutor o está culpando por fatos que não são mais de sua responsabilidade, pois ele abdicou de suas ideias iniciais para atender às atuais requisições populares, o que atualiza suas propostas de recuperação da Alemanha.
Não se considera um monstro, pois o que lhe dá legitimidade e direito de expor suas ideias e realizar seus planos é o fato de ter sido eleito pelo povo alemão, que se identifica com suas ideias e que confia na condução que ele poderá dar aos destinos do país.
Não se considera culpado, pois as ideias nazistas que sempre defendeu fazem parte da tradição histórica do povo alemão, e ele não conseguiu dissuadir seus eleitores quanto à inviabilidade de colocá-las em prática e, portanto, deve acatar a vontade expressa nas urnas.
Tenta convencer seu interlocutor de que não está enganando as pessoas, porque elas sabem de sua autocrítica em relação às ideias que defendia em 1933 e que não mais defende, o que o faz ser idolatrado por todos e escolhido para conduzir a recuperação do país.