TEXTO
SOMOS TODOS MACACOS COISA NENHUMA
Postado em 28 abril 2014 por: Marcos Sacramento(*)
A reação foi rápida. Horas depois de Daniel Alves reagir com maestria a uma provocação racista, Neymar postou no Instagram uma foto segurando uma banana com a hashtag “somostodosmacacos”. O protesto viralizou e ganhou a adesão de famosos: Luciano Huck e Angélica, Ivete Sangalo, Alexandre Pires e até Inri Cristo posaram com a banana.
Seria tudo lindo e altruísta não fossem duas coisas.
A primeira é que nós, negros e pardos, não somos e nem gostamos de ser chamados de macacos. Chamar uma pessoa de cor de macaco é um dos xingamentos mais comuns e cruéis. Coloca o negro em uma posição subalterna em relação ao branco, ao aludir a um animal que, apesar de semelhante aos humanos, está alguns andares abaixo na escala evolutiva. É pesado e cheio de subtextos, diferente de “tição”, por exemplo, que alude só ao tom da pele.
Admitir que “somos todos macacos” é uma defesa equivocada e perigosa. Equivocada porque nenhum racista questiona que os humanos são primatas. Perigosa porque traz o significado implícito de que somos todos iguais, mas para combater o racismo de frente é melhor destacar as diferenças.
O outro problema é que o movimento “Somos todos macacos” não foi tão espontâneo. A sacada de Neymar, na verdade, já estava planejada por uma agência de publicidade. Até aí tudo bem, porque as ofensas são tão corriqueiras que não surpreende deixar uma resposta pronta.
Só que hoje a grife do Luciano Huck lançou a camisa referente à campanha. Com uma estampa fazendo referência à manjada banana de Andy Warhol, está sendo vendida a 69 reais. A imagem promocional mostra um casal de modelos brancos.
Daniel Alves protestou com espontaneidade e irreverência. Seu ato já pode ser considerado um marco na luta contra o racismo no futebol. Mas não significa que devemos dar de ombros para o racismo e achar que a melhor saída é ignorar a ofensa. Ele fez o melhor possível naquele momento, em pleno campo, e antes de cobrar um escanteio.
Foi notícia no mundo inteiro e o problema do racismo voltou para a agenda de discussão sem a necessidade de hashtags artificiais e famosos forçando semblante indignado no Instagram.
Aí vem a tal campanha e, na cola dela, uma camisetinha bem oportunista, sem buscar questionamentos mais elaborados sobre a questão racial. Tudo bem superficial, na velocidade das redes sociais, sem se prender a questões mais profundas como defender cotas raciais ou questionar por que morrem mais negros do que brancos por causas violentas.
Talvez porque, como eles dizem, “somos todos macacos”, ou seja, iguais, e racismo é uma coisa de idiotas que estão lá do outro lado do mundo.
(*) Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.
Disponível em: <http://www.diariodocentrodomundo.com.br/somos-todos-macacos-coisa-nenhuma/>. Acesso em: 07 jul. 2015.
A partir da leitura do Texto, assinale a única opção correta.
O movimento “Somos todos macacos” foi altruísta, espontâneo e contou com o apoio de pessoas famosas: artistas de TV, cantores e atletas.
Negros, pardos e o próprio autor não são e não gostam de serem chamados de macacos, pois chamar uma pessoa de macaco é inferiorizá-la.
A atitude do jogador Daniel Alves, ao comer a banana, incentiva a todos a não se manifestar contra o racismo, pois a melhor forma de lutar é ignorar a ofensa.
Ao se considerarem “macacos” e publicarem seus semblantes indignados no Instagram, os artistas brasileiros estão contribuindo, de forma profunda, para a luta contra atitudes racistas.