TEXTO
Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre:
[5] Dizei-me por vida vossa
em que fundais o ditame
de exaltar os que aqui vêm,
e abater os que aqui nascem?
Se o fazeis pelo interesse
[10] de que os estranhos vos gabem,
isso os paisanos fariam
com conhecidas vantagens.
E suposto que os louvores
em boca própria não valem,
[15] se tem força esta sentença,
mor força terá a verdade.
O certo é, pátria minha,
que fostes terra de alarves,
e inda os ressábios vos duram
[20] desse tempo e dessa idade.
Haverá duzentos anos,
nem tantos podem contar-se,
que éreis uma aldeia pobre
e hoje sois rica cidade.
[25] Então vos pisavam índios,
e vos habitavam cafres,
hoje chispais fidalguias,
arrojando personagens.
Nota: entenda-se “Bahia” como cidade.
Gregório de Matos
Vocabulário
alarves - que ou quem é rústico, abrutado, grosseiro,
ignorante; que ou o que é tolo, parvo, estúpido.
ressábios - sabor; gosto que se tem depois.
cafres - indivíduo de raça negra
Todas as afirmativas sobre a construção estética ou a produção textual do poema de Gregório de Matos (Texto VII) estão adequadas, EXCETO uma. Assinale-a.
Existem antíteses, características de textos no período barroco.
Há uma personificação, pois a Bahia, ser inanimado, é tratada como ser vivo.
A ausência de métrica aproxima o poema do Modernismo.
O eu lírico usa o vocativo, transformando a Bahia em sua interlocutora.
Há diferença de tratamento para os habitantes locais e os estrangeiros.