Texto
Renúncia
Chora de manso e no íntimo... Procura
Curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa...
Sofre sereno e de alma sobranceira,
Sem um grito sequer, tua desgraça.
Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...
(BANDEIRA, Manuel. A cinza das horas. In: Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p. 75)
Quanto às possibilidades de leitura do poema acima, não se pode afirmar apenas que
o eu-lírico convida o interlocutor a ser resignado.
a visão idílica expressa no poema é resultado de uma postura otimista do eu-lírico frente ao mundo.
o pessimismo marca o arrebatamento lírico no texto.
a inexorabilidade do sofrimento deve ser, segundo o eu-lírico, causa para a acomodação pessoal à tristeza.
o sentimento de revolta diante da dor de viver não fica expresso no texto.