TEXTO:
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
[5] existe apenas o medo, nosso pai e nosso
[companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das
[igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos
[democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da
[morte.
[10] Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e
[medrosas.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Congresso Internacional do Medo.
Em relação à palavra “medo”, substantivo abstrato, que permeia quase todo o poema, estão também presentes dois outros, ódio e amor, com a finalidade de
completar-lhe o sentido, reforçando-lhe a expressividade.
estabelecer uma similaridade semântica entre esses substantivos: ódio, amor e medo.
revelar a frequência da ação dessas três emoções nos corações humanos desde sempre.
evidenciar o quanto o primeiro sentimento domina, então, os indivíduos em diferentes situações.
mostrar a permanência dessas sensações no seio social, destacando, entre elas, o surgimento do amor.