TEXTO:
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
[5] existe apenas o medo, nosso pai e nosso
[companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das
[igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos
[democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da
[morte.
[10] Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e
[medrosas.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Congresso Internacional do Medo.
Quanto aos elementos linguísticos que compõem o poema, está correto o que se afirma em
O elemento coesivo “que”, em “que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.” (v. 2), retoma o substantivo “amor” (v. 1), restringindo-lhe o sentido.
O termo “os braços”, em “que esteriliza os braços” (v. 3), exerce a mesma função do pronome “que” (v. 3), em virtude de ele representar “o medo”, complemento de “Cantaremos” (v. 3), presente na oração anterior.
A expressão “o medo, em “existe apenas o medo” (v. 5), funciona como agente da ação expressa por “existe”, assim como “flores amarelas e medrosas”, em “e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.” (v. 11), em relação a “nascerão”.
O qualificador “grande”, em “o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos” (v. 6), altera o sentido do contexto, se deslocado para antes de “medo”.
O elemento preposicionado “de medo”, em “Depois morreremos de medo” (v. 10), constitui uma circunstância de meio.