Texto
Para que ninguém a quisesse
Marina Colasanti
Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Antes disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, das gavetas tirou todas as jóias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.
Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela. Esquivava-se como um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair.
Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.
Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.
Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.
Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou o tecido numa gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.
Do livro: Contos de Amor Rasgado
Em “Dos armários tirou as roupas de seda, das gavetas tirou todas as jóias.” temos uma mudança na ordem direta da frase, de modo que o advérbio ficou deslocado de sua posição mais habitual, que seria após o verbo: “Tirou dos armários as roupas de seda” e “Tirou das gavetas todas as jóias”. Assinale a alternativa em que uma nova posição do advérbio não altera o sentido da frase original nem gera ambiguidade:
Tirou as roupas dos armários de seda.
Tirou as roupas de seda dos armários.
Tirou dos armários de seda as roupas.
Dos armários de seda tirou as roupas.
Das roupas de seda tirou o armário.