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De mim, pessoa, vivo para a minha mulher, que
tudo modo-melhor merece, e para a devoção. Bem-querer
de minha mulher foi que me auxiliou, rezas dela, graças.
Amor vem de amor. Digo. Em Diadorim, penso também
[5] — mas Diadorim é a minha neblina.
[...]
Diadorim e eu, nós dois. A gente dava passeios.
Com assim, a gente se diferenciava dos outros — porque
jagunço não é muito de conversa continuada nem de
[10] amizades estreitas: a bem eles se misturam e desmisturam,
de acaso, mas cada um é feito um por si. De nós dois
juntos, ninguém nada não falava. Tinham a boa prudência.
Dissesse um, caçoasse, digo — podia morrer. Se
acostumavam de ver a gente parmente. Que nem mais
[15] maldavam. E estávamos conversando, perto do rego —
bicame de velha fazenda, onde o agrião dá flor. Desse
lusfús, ia escurecendo. Diadorim acendeu um foguinho, eu
fui buscar sabugos. Mariposas passavam muitas, por entre
as nossas caras, e besouros graúdos esbarravam. Puxava
[20] uma brisbisa. O ianso do vento revinha com o cheiro de
alguma chuva perto. E o chiim dos grilos ajuntava o
campo, aos quadrados. Por mim, só, de tantas minúcias,
não era o capaz de me alembrar, não sou de à parada pouca
coisa; mas a saudade me alembra. Que se hoje fosse.
[25] Diadorim me pôs o rastro dele para sempre em todas essas
quisquilhas da natureza. Sei como sei. Som como os sapos
sorumbavam. Diadorim, duro sério, tão bonito, no relume
das brasas. Quase que a gente não abria boca; mas era um
delém que me tirava para ele — o irremediável extenso da
[30] vida. Por mim, não sei que tontura de vexame, com ele
calado eu a ele estava obedecendo quieto.
João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas. 19.a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 40-5 (com adaptações).
Tendo como referência o texto precedente, extraído da obra Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, julgue os itens a seguir.
A expressividade literária do texto baseia-se, entre outros elementos, na precisão com que o mundo natural é descrito pelo autor.
Certo
Errado