Texto para a questão
Triste Bahia
Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote*.
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
Gregório de Matos.
*provável referência aos ingleses (British)
No texto, entre outras marcas do estilo de época que se convencionou chamar de Barroco, encontra-se o
emprego predominante de vocabulário elevado, de extração erudita, majoritariamente composto de palavras raras e preciosas.
estabelecimento de um jogo de oposições semânticas produzidas, no caso, pelo espelhamento mútuo do poeta e da Bahia.
uso intensivo da obscuridade semântica, conferindo ao texto caráter hermético e misterioso.
eu lírico dilacerado, tensionado por sua divisão entre a veneração dos bens terrenos e a religiosidade exaltada, de caráter místico.
recurso ao tema do “fugere urbem” (fuga à cidade), como modo de criticar a sociedade decadente da Bahia.