FGV-SP Administração 2017/2

Texto para a questão

 

  Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia — algumas vezes gemendo —, mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um “Ai, nhonhô!”, ao que eu retorquia: “Cala a boca, besta!”. Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

No excerto, considerado no contexto da obra a que pertence, o narrador

a

traz ao primeiro plano da narrativa o tema central do enredo desenvolvido ao longo das Memórias póstumas de Brás Cubas: a escravidão.

b

demonstra que a relação entre senhor e escravo, não obstante a desproporção entre ambos, poderia ser humana e benfazeja, não fossem certos proprietários de má índole, afeitos à crueldade.

c

justifica indiretamente a existência da escravidão, como mal necessário em país novo, egresso da colonização e desprovido de mão de obra abundante e apta.

d

naturaliza a existência da escravidão, isto é, não a denuncia nem questiona, mas a narrativa, objetivamente, dá a ver as mazelas dessa instituição, indicando-lhe o caráter deletério.

e

focaliza o tratamento dispensado aos escravos de dentro, isto é, utilizados nos serviços domésticos, em geral tratados com mais brutalidade do que os escravos do eito e da mineração.

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Resposta
D

Resolução

Nesse trecho das Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador-protagonista recorda um episódio de sua infância no qual, de forma displicente, narra ações cruéis contra escravos e pessoas ao redor. Embora apresente a convivência com escravos, em nenhum momento ele condena ou questiona a instituição da escravidão; pelo contrário, a trata como parte naturalizada do cotidiano. Contudo, a própria descrição de sua atitude violenta revela as mazelas desse sistema, mostrando implicitamente o seu caráter desumano e crítico, tal como a obra de Machado de Assis sugere em diversos momentos. Por isso, a alternativa correta é a (D).

Dicas

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Observe a atitude do narrador diante da violência descrita.
Repare como a escravidão é mencionada sem ser propriamente questionada.

Erros Comuns

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Acreditar que Machado de Assis coloca a escravidão como tema principal do romance.
Interpretar que há uma crítica explícita ou uma defesa clara da escravidão.
Ignorar o tom irônico e subtle de Machado ao retratar a crueldade naturalizada.
Revisão

Para interpretar o excerto de Memórias póstumas de Brás Cubas, é importante lembrar a ironia e a sutileza de Machado de Assis, que costuma retratar a sociedade brasileira do século XIX. No romance, a escravidão é parte constante do contexto social, porém o autor utiliza a frieza e o tom indiferente do narrador para expor as contradições e crueldades da época. Assim, vemos como a obra mostra, sem denunciar explicitamente, a brutalidade naturalizada nesse regime escravocrata.

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