Texto para a questão
Ao Leitor
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
Se entendermos que obras escritas “com a pena da galhofa e a tinta de melancolia” são aquelas que, caracterizadas por um humor vivo e jocoso, tendem, entretanto, a descrever uma curva em direção da tristeza e do desapontamento, incluiremos nessa série literária a obra
Senhora, de José de Alencar.
Macunaíma, de Mário de Andrade.
Fogo morto, de José Lins do Rego.
Vestido de noiva, de Nélson Rodrigues.
Capitães da areia, de Jorge Amado.