INSPER Análise Verbal e de Comunicação Escrita 2016/2
Texto para a questão
Amar, e não saber, não ter coragem
Para dizer que amor que em nós sentimos;
Temer qu’olhos profanos nos devassem
O templo, onde a melhor porção da vida
Se concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte de amor, esses tesouros
Inesgotáveis d’ilusões floridas;
Sentir, sem que se veja, a quem se adora,
Compr’ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la, sem poder fitar seus olhos,
Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
E, temendo roçar os seus vestidos,
Arder por afogá-la em mil abraços:
Isso é amor, e desse amor se morre!
DIAS, Gonçalves. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
Considerando o último verso da estrofe transcrita, pode-se afirmar que o amor, para o eu lírico,
sempre pode levar a um profundo sofrimento.
só existe quando é plenamente revelado.
é mais intenso se não é retribuído.
mistura ousadia e compreensão.
quando é verdadeiro, pode matar.
Resolução
Passo a passo da solução:
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Leitura Atenta do Poema: Leia o poema de Gonçalves Dias prestando atenção aos sentimentos e à situação descrita pelo eu lírico. Note que ele descreve um amor intenso, porém secreto e não declarado ("Amar, e não saber, não ter coragem / Para dizer", "sem ousar dizer que amamos").
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Identificação do Tema Central: O tema é um amor platônico, idealizado, mas também angustiante e reprimido. O eu lírico sente profundamente, compreende a pessoa amada à distância, deseja ardentemente o contato físico ("Arder por afogá-la em mil abraços"), mas ao mesmo tempo teme a proximidade e a revelação ("Temer qu’olhos profanos nos devassem", "temendo roçar os seus vestidos").
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Análise do Verso Final: O enunciado pede para considerar especificamente o último verso: "Isso é amor, e desse amor se morre!". Este verso funciona como uma conclusão ou definição do tipo de sentimento descrito anteriormente. O eu lírico afirma que *essa* experiência específica (o amor secreto, intenso, cheio de desejo reprimido e medo) é a sua definição de amor, e que *esse* tipo de amor tem uma consequência fatal: a morte (seja ela literal ou figurada, como morte por angústia ou sofrimento extremo).
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Avaliação das Alternativas à Luz do Verso Final:
- A: Embora o sofrimento esteja presente, o verso final fala em "morrer", que é mais extremo que "profundo sofrimento".
- B: O poema descreve justamente um amor *não* revelado, contradizendo a alternativa.
- C: O poema não foca se o amor é ou não retribuído, mas sim na angústia de não poder expressá-lo. A intensidade deriva dessa repressão.
- D: O eu lírico demonstra compreensão, mas falta-lhe ousadia; pelo contrário, ele demonstra medo e hesitação.
- E: Esta alternativa capta a essência do verso final. O eu lírico define o sentimento descrito como amor ("Isso é amor") e afirma que ele pode levar à morte ("e desse amor se morre!"). A ideia de que um amor verdadeiro (ou, neste caso, o amor *tal como definido pelo eu lírico*) pode ser fatal está diretamente ligada ao verso.
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Conclusão: A alternativa E é a que melhor interpreta o significado do último verso dentro do contexto do poema, que descreve um amor intenso e reprimido, cuja consequência final, segundo o eu lírico, é a morte.
Dicas
Erros Comuns
Revisão de Conceitos:
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Eu Lírico (ou Sujeito Lírico): É a voz que se expressa no poema, o "eu" que manifesta sentimentos, emoções e pensamentos. Não deve ser confundido com o autor (pessoa real). Neste poema, o eu lírico expressa uma visão particular e intensa sobre o amor.
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Interpretação de Texto Poético: Requer atenção à linguagem figurada (metáforas, etc.), ao ritmo, à sonoridade e, principalmente, aos sentimentos e ideias expressos. É crucial analisar o texto como um todo e como suas partes (versos, estrofes) se conectam.
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Romantismo Brasileiro (1ª Geração - Indianista/Nacionalista): Gonçalves Dias é um dos principais poetas dessa fase. Embora conhecido pelo indianismo, sua obra também explora temas lírico-amorosos com características românticas como: subjetivismo (foco nos sentimentos do eu lírico), idealização do amor e da mulher, sentimentalismo exacerbado, pessimismo, e a relação entre amor e morte (o amor como fonte de sofrimento extremo, por vezes fatal).
