INSPER Análise Verbal e de Comunicação Escrita 2016/1

Texto para a questão


A imitação da rosa


    Antes que Armando voltasse do trabalho a casa deveria estar arrumada e ela própria já no vestido marrom para que pudesse atender o marido enquanto ele se vestia, e então sairiam com calma, de braço dado como antigamente. Há quanto tempo não faziam isso?
    Mas agora que ela estava de novo "bem", tomariam o ônibus, ela olhando como uma esposa pela janela, o braço no dele, e depois jantariam com Carlota e João, recostados na cadeira com intimidade. Há quanto tempo não via Armando enfim se recostar com intimidade e conversar com um homem? A paz de um homem era, esquecido de sua mulher, conversar com outro homem sobre o que saía nos jornais. Enquanto isso ela falaria com Carlota sobre coisas de mulheres, submissa à bondade autoritária e prática de Carlota, recebendo enfim de novo a desatenção e o vago desprezo da amiga, a sua rudeza natural, e não mais aquele carinho perplexo e cheio de curiosidade — e vendo enfim Armando esquecido da própria mulher. E ela mesma, enfim, voltando à insignificância com reconhecimento. Como um gato que passou a noite fora e, como se nada tivesse acontecido, encontrasse sem uma palavra um pires de leite esperando. As pessoas felizmente ajudavam a fazê‐la sentir que agora estava "bem". Sem a fitarem, ajudavam-na ativamente a esquecer, fingindo elas próprias o esquecimento como se tivessem lido a mesma bula do mesmo vidro de remédio. Ou tinham esquecido realmente, quem sabe. Há quanto tempo não via Armando enfim se recostar com abandono, esquecido dela? E ela mesma?

LISPECTOR, Clarice. Laços de família: contos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990, p. 47.

Na obra de Clarice Lispector, é comum a explicitação do cotidiano opressor da sociedade patriarcal.

 

No fragmento, essa representação pode ser ilustrada por meio

a

da referência a clichês que denunciam um estereótipo de gêneros, enquanto a inadaptação é vinculada a um comportamento selvagem.

b

da exploração de paradoxos, como “olhando como uma esposa”, que evidenciam a falta de sentido das atribuições dadas às mulheres na época.

c

da insinuação de que a sociedade prefere ignorar indivíduos que não estão “bem”, isto é, não conseguem se adaptar às regras sociais.

d

da denúncia de que mulheres que tentavam ficar “bem”, isto é, que tomavam suas próprias decisões, incomodavam seus maridos, tirando‐lhes a paz.

e

do emprego de termos como “felizmente” que revelam a aprovação do marido para a mudança de comportamento da esposa, em oposição à desaprovação das outras pessoas.

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Resposta
A
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