TEXTO
Otávio (entra de capa, sacudindo o guarda-chuva)
— Ué, que é isso?
Tião — Esperando a chuva passá!
Maria — Boa-noite, seu Otávio!...
Otávio — Salve!... Pegaram muita chuva?
Maria — Um pouco...
Otávio — Não passa tão cedo, não. Deixa chovê que espanta o calor.
Deixa o guarda-chuva num canto e começa a tirar os sapatos.
Tião — De farra, hein pai?
Otávio — Farra?... Farra vão vê eles lá na fábrica. Sai o aumento nem que seja a tiro!... Querendo podem aproveitá o guarda-chuva, tá furado mas serve... Eu acho graça desses caras, contrariam a lei numa porção de coisas. Na hora de pagá o aumento querem se apoiá na lei. Vai se preparando, Tião. Num dou duas semanas e vai estourá uma bruta greve que eles vão vê se paga ou não. (Vai até o móvel e pega uma garrafa de pinga.) Pra combatê a friagem... Se não pagá, greve... Assim é que é...
Tião — O senhor parece que tem gosto em prepará greve, pai.
Otávio — E tenho, tenho mesmo! Tu pensa o quê? Não tem outro jeito, não! É preciso mostrá pra eles que nós tamo organizado. Ou tu pensa que o negócio se resolve só com comissão. Com comissão eles não diminui o lucro deles nem de um tostão! Operário que se dane. Barriga cheia deles é o que importa... (Apontando a garrafa) Não vão querê um golinho?
Maria — Sabe, seu Otávio, o Tião resolveu uma coisa...
Tião — É sim, pai. Nós vamos ficá noivo!
Otávio — Hum!... Se se gosta mesmo é o que tem de fazê!
Tião — Isso não tem dúvida. Daqui dez dias nós fica noivo...
Otávio — Não tá meio apressado, não?
Tião — Tem de sê mesmo. Vamo fazê logo...
Otávio — É uma teoria. Só que nós, ó, dinheiro é pouco...
(GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não usam black tie. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995. p. 28-29.)
A personagem Otávio, no Texto, afirma ser muito difícil aos empresários diminuírem seus lucros. O presidente João Goulart (1961-1964) não queria exatamente diminuir o lucro do empresariado, mas conseguiu em 1962 aprovar a Lei n. 4.131/62, que limitava o envio dos lucros obtidos para o exterior. Tal fato acirrou a oposição das multinacionais ao governo.
Sobre a aprovação dessa Lei e a política brasileira nesse período, assinale a alternativa correta:
Demonstra que não era inviável a aliança operário-estudantil-camponesa, defendida pelos líderes governamentais.
Aponta para a forte presença do nacionalismo econômico no projeto de governo de João Goulart, também manifesto nas Reformas de Base.
Demonstra que a presença do capital internacional era ainda fraca no país, sem força para controlar os representantes do Congresso Nacional.
Aponta para a contraposição radical entre os grupos ruralistas, representados no Congresso, e a burguesia estrangeira, significando uma vitória dos primeiros.