TEXTO:
O que faz O cortiço especial, do ponto de vista
econômico, é justamente a demonstração daquilo que
Marx chamou de “lenda” e de “pecado original” do
capitalismo: ao descrever o surgimento de capitalistas
[5] e de um proletariado explorado, o romance acaba
revelando uma sucessão de “crimes” que Romão e, por
extensão, o agente capitalista cometem, bem como a
relação entre acumulação e extração de riquezas da
natureza. Os suores de Romão e Bertoleza estão
[10] presentes nos primeiros estágios de acumulação.
Bertoleza continuará “suando” até o fim do romance, ao
passo que Romão se livrara, progressivamente, do
trabalho braçal. Não é o suor, portanto, conta-nos Aluísio,
que faz o capitalista, mas os crimes que a riqueza
[15] permitirá, por meio da ideologia, esconder.
É esse o processo que cria o capitalista Romão e,
por consequência, seus assalariados. Romão não tem
escravos, e não os compra com o que acumula — assim,
mostra-se sensível ao futuro da sociedade brasileira, não
[20] se amarrando a sinais de status do passado que não
tivessem futuro. Quanto a Bertoleza, desde o começo,
sabemos da grande fraude que significou sua alforria;
ela, porém, a ignora. Para o leitor, é a prova viva do
“pecado original” de Romão, que não precisa aparecer
[25] muito ao longo do romance para que essa tensão
permaneça.
SEREZA, Haroldo Ceravolo. O Cortiço, romance econômico. p. 190-191. Disponível em: http://novosestudos.uol.com.br//v1/files/ uploads/contents/content_1560/file_1560.pdf. Acesso em: 10 mar. 2015.
Para o articulista, O Cortiço
ilustra, com clareza, aspectos temáticos da tese de Marx, na medida em que investiga literariamente personagens que acumulam bens por meio da exploração do trabalho braçal de outros.
representa a teoria de Marx através da constatação da forma como Romão descarta a possibilidade de adquirir escravos em um contexto em que o Brasil ainda era escravagista.
pode ser comparado à obra Manifesto Comunista, de Karl Marx, por meio da concepção do romance-tese, que tem como principal objetivo denunciar as mazelas sociais.
é uma obra naturalista que reitera a concepção da origem capitalista por meio da defesa da ideia do homem como produto do meio.
revisita o conceito capitalista proposto por Marx a partir da comparação entre a acumulação de bens de Romão e de Bertoleza.