TEXTO
O maior valor da sociedade do espetáculo na qual vivemos é a fama. Fomentada e almejada, já não
importa se ela é alcançada por algum tipo de mérito no campo das ciências, das artes, dos esportes
ou da política. Nas redes sociais, a promessa da fama ao alcance de todos chama adeptos. “Amigos” no
Facebook ou “seguidores” no Twitter são números a refletir o status de “popularidade” e “influência”
[5] de indivíduos.
A valorização tanto de si quanto do outro é relevante de um ponto de vista ético e político.
Constitui um elemento fundamental do reconhecimento social. Podendo ser concomitantes, fama
e reconhecimento são, no entanto, opostos. O reconhecimento como valor ético implica o olhar de
alguém na direção de um outro, já a fama implica apenas que alguém seja visto e falado.
[10] O reconhecimento é um processo de intersubjetivação. A fama é um processo de objetificação.
O famoso é conhecido, mas não necessariamente reconhecido. O exemplo de Albert Einstein nos
mostra a diferença entre as duas condições: praticamente não há quem não tenha ouvido falar no
famoso físico, embora quase ninguém saiba nada sobre sua teoria e não possa, portanto, reconhecer
o cientista ou o ser humano capaz dela.
[15] O filme Para Roma com amor, de Woody Allen, nos oferece um retrato da fama que está em jogo em
nosso tempo. O personagem Leopoldo Pisanello, interpretado pelo ator Roberto Benigni, torna-se
famoso por acaso e deixa de sê-lo também por acaso. A fama que primeiro o importunava passa a
fazer falta quando ele a perde. Pessoa simples que era, ele não ganha nada com a fama, a não ser a
própria fama. A fama é este aparecer que se torna um fim em si e que pode virar um negócio na vida
[20] das assim chamadas “celebridades”.
A lógica do mundo dos famosos tem diversas escalas. Por exemplo, a fama como uma moeda é
acrescentada ao cofrinho do dia a dia. Quanto mais famoso alguém é, mais famoso pode tornar-se.
E, muitas vezes, a fama se traduz na moeda corrente, efetivamente mais riqueza do ponto de vista
financeiro, pois o mundo da imagem é uma verdadeira bolsa de valores.
[25] A expressão “estar bem na foto” vale em todas as escalas da fama numa sociedade dividida pelo grau
de “visibilidade” dos seus partícipes. Verdade da experiência empobrecida na vida de nosso tempo,
o famoso cresce e aparece, mas não sem esforço. Sem trabalho, a decadência é caminho seguro, seja
para o jogador de futebol cuja vida cai nas malhas da maledicência, seja para a atriz que precisa estar
na novela das oito ou na revista de fofocas. Daí que muitos prefiram que “falem mal, mas falem” do
[30] que o mero esquecimento almejado por tantos outros.
A fama é o mero aparecer, repetitivo e compulsivo, sem que haja necessariamente algo para mostrar.
Quando não se pode mais esperar nada, nem autoconhecimento, nem uma vida justa, quando “ser”
de nada vale, aparecer é o caminho para a conquista da imagem como capital.
Marcia Tiburi Adaptado de revistacult.uol.com.br, setembro/2012.
Com base na argumentação desenvolvida nos três últimos parágrafos, o principal componente de uma escala de aferição da fama é:
dedicação às finanças
conquista de visibilidade
indiferença às maledicências
ausência de autoconhecimento