TEXTO
O grande sábio e o imenso tolo
Millôr Fernandes
[1] Por um acaso do destino, um velho e sábio professor e um jovem e estulto aluno se
encontraram dividindo bancos gêmeos num ônibus interestadual. O estulto aluno, já conhecido do
sábio professor exatamente por sua estultície, logo cansou o mestre com seu matraquear ininterrupto
e sem sentido. O professor aguentou o quanto pôde a conversa insossa e descabida. Afinal, cansado,
[5] arranjou, na sua cachola sábia, uma maneira de desativar o papo inútil do aluno. Sugeriu:
- Vamos fazer um jogo que sempre proponho nestas minhas viagens. Faz o tempo passar bem
mais depressa. Você me faz uma pergunta qualquer. Se eu não souber responder, perco cem pratas.
Depois eu lhe faço uma pergunta. Se você não souber responder, perde cem.
- Ah, mas isso é injusto! Não posso jogar esse jogo – disse o aluno, provando que não era tão
[10] tolo quanto aparentava –, eu vou perder muito dinheiro! O senhor sabe infinitamente mais do que eu.
Só posso jogar com a seguinte combinação: quando eu acertar, ganho cem pratas. Quando o senhor
acertar, ganha só vinte.
- Está bem – concordou o professor – pode começar.
- Me diz, professor – perguntou o aluno –, o que é que tem cabeça de cavalo, seis patas de
[15] elefante e rabo de pau?
O professor, sem sequer pensar, respondeu:
- Não sei; nem posso saber! Isso não existe.
- O senhor não disse se devia existir ou não. O fato é que o senhor não sabe o que é –
argumentou o aluno – e, portanto, me deve cem pratas.
[20] - Tá bem, eu pago as cem pratas – concordou o professor pagando –, mas agora é minha vez.
Me diz aí: o que é que tem cabeça de cavalo, seis patas de elefante e rabo de pau?
- Não sei – respondeu o aluno. E, sem maior discussão, pagou vinte pratas ao professor.
MORAL: A sabedoria, nos dias de hoje, está valendo 20% da esperteza.
*Estulto: adj. insensato, néscio, parvo, tolo.
Fonte: http://www2.uol.com.br/millor/fabulas/071.htm. Acesso em 04 de jan 2012.
Acerca da linguagem utilizada no texto, assinale a alternativa INCORRETA.
O narrador usa um vocabulário rebuscado, provavelmente como forma de se aproximar da linguagem tradicionalmente utilizada nas fábulas.
A linguagem do texto é inadequada à situação comunicativa, por apresentar simultaneamente marcas da linguagem formal e da oralidade.
Embora utilize predominantemente a modalidade formal da língua, o texto apresenta características de oralidade em algumas situações.
A colocação pronominal na frase “Me diz, professor – perguntou o aluno –, o que é que tem cabeça de cavalo, seis patas de elefante e rabo de pau?” (linhas 14 e 15) encontra-se em desacordo com o padrão formal da língua.