FMC 2016/2

TEXTO
 

O enfermeiro
Machado de Assis

 

    Chegando à vila, tive más notícias do coronel.
Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém
o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais
enfermeiros que remédios. A dous deles quebrou a
[5] cara. Respondi que não tinha medo de gente sã,
menos ainda de doentes; e depois de entender-me
com o vigário, que me confirmou as notícias
recebidas, e me recomendou mansidão e caridade,
segui para a residência do coronel.
[10]     Achei-o na varanda da casa estirado numa
cadeira, bufando muito. Não me recebeu mal.
Começou por não dizer nada; pôs em mim dous olhos
de gato que observa; depois, uma espécie de riso
maligno alumiou-lhe as feições, que eram duras.
[15] Afinal, disse-me que nenhum dos enfermeiros que
tivera prestava para nada, dormiam muito, eram
respondões e andavam ao faro das escravas; dous
eram até gatunos!
    — Você é gatuno?
[20]    — Não, senhor.
    Em seguida, perguntou-me pelo nome: disse-

lho e ele fez um gesto de espanto. Colombo? Não,
senhor: Procópio José Gomes Valongo. Valongo?
achou que não era nome de gente, e propôs chamar-

[25] me tão-somente Procópio, ao que respondi estaria
pelo que fosse de seu agrado. Conto-lhe esta
particularidade, não só porque me parece pintá-lo
bem, como porque a minha resposta deu de mim a
melhor ideia ao coronel. Ele mesmo o declarou ao
[30] vigário, acrescentando que eu era o mais simpático
dos enfermeiros que tivera. A verdade é que vivemos
uma lua-de-mel de sete dias.
    No oitavo dia, entrei na vida dos meus
predecessores, uma vida de cão, não dormir, não
[35] pensar em mais nada, recolher injúrias, e, às vezes, rir
delas, com um ar de resignação e conformidade;
reparei que era um modo de lhe fazer corte. Tudo
impertinências de moléstia e do temperamento. A
moléstia era um rosário delas, padecia de aneurisma,

de reumatismo e de três ou quatro afecções menores.
[40] Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a
gente lhe fazia a vontade. Se fosse só rabugento, vá;
mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a
humilhação dos outros. No fim de três meses estava
farto de o aturar; determinei vir embora; só esperei
[45] ocasião.
    Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não
desse a tempo uma fomentação, pegou da bengala e
atirou-me dois ou três golpes. Não era preciso mais;
despedi-me imediatamente, e fui aprontar a mala. Ele
[50] foi ter comigo, ao quarto, pediu-me que ficasse, que
não valia a pena zangar por uma rabugice de velho.
Instou tanto que fiquei.
MACHADO DE ASSIS, Joaquim. Obra Completa – Contos. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985, p. 528-535. Fragmento.

Do ponto de vista estrutural, o fragmento do texto "O enfermeiro" é predominantemente

a

expositivo, com passagens descritivas.

b

dissertativo, com passagens narrativas.

c

narrativo, com passagens dissertativas.

d

descritivo, com passagens narrativas.

e

narrativo, com passagens descritivas.

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E
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