TEXTO
O Açúcar
Ferreira Gullar
[140] O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por
milagre.
[145] Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
[150] não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o
Oliveira,
dono da mercearia.
[155] Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
[160] e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
[165] homens que não sabem ler e morrem de
fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.
[170] Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
[175] com que adoço meu café esta manhã em
Ipanema.
GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. p.277-278.
Reconhecendo a relevância dos temas abordados por Gullar, em sua obra, atente para as seguintes afirmativas sobre o texto O Açúcar.
I. Faz uma reflexão sobre o trajeto do cultivo à comercialização do açúcar, apoiando-se nos antagonismos presentes da relação entre os envolvidos.
II. Centra-se no período da colonização, no Brasil, quando o açúcar era uma das bases da economia deste período.
III. Denuncia a exploração dos trabalhadores por aqueles que lucram com a comercialização do produto açúcar.
Estão corretas as assertivas contidas em
I e II apenas.
I e III apenas.
II e III apenas.
I, II e III.