FCM PB Medicina 2015/1

TEXTO – Não quero ser saudável

Já quis fazer um regime que prometia saúde perfeita e viver tão conservado quanto uma múmia egípcia. Lá pelos meus 20 anos, era a macrobiótica. No início do regime, passei dez dias à base de arroz integral cozido sem temperos. Segundo os macrobióticos, o arroz, superior a qualquer outro alimento, limparia meu corpo das toxinas e impediria doenças futuras. Minha esperança era tanta que perguntei: “Cura miopia e astigmatismo também”?

Não, o arroz integral dedicava-se a enfermidades mais assustadoras. Eu me conformei a continuar de óculos, apesar da primeira pontada de decepção. Depois dos dez dias, já com a pele amarelada e as maçãs salientes, tive o direito a complementar o cardápio com gergelim, bardana e feijão-azuqui. Ai, que tristeza era cada refeição! Lembro até hoje em que sonhei com um hambúrguer-salada voando na minha direção. As folhas de alface batiam que nem asinhas! No dia seguinte, mergulhei na primeira lanchonete que vi. E me esbaldei nos hambúrgueres. Adeus macrobiótica!

Sempre tive o pendor por uma dieta saudável. Ando curioso com os veganos. Trata-se de um vegetarianismo radical, sem a ingestão de nenhum produto de origem animal. Inspirações, sim. Um amigo foi recentemente a um restaurante vegano em São Paulo. O cardápio do dia era feijoada! Uma adaptação vegetariana, claro, brócolis substitui o bacon? “Foi uma das piores experiências da minha vida”, disse ele.

Nos sites dedicados a produtos veganos, descobri até salsicha vegetariana. Suspeito que é para facilitar a introdução à dieta. Outro amigo, um advogado barrigudo, disse:

– Se comer salada fosse bom, tinha rodízio.

É verdade. Existe rodízio de carne, de pizza, de sushi. Alguém pode me indicar um rodízio de berinjela, espinafre, escarola, alface?

Um dos problemas para me tornar vegano, além da minha gulodice, é que dietas alimentares se tornam uma espécie de religião. Alimentar-se passa a ser um ritual. Um grupo de vegetarianos descobriu o óbvio: vegetais também têm sentimentos. Prova disso: plantas que crescem ao som da música clássica têm um desenvolvimento mais harmonioso que as que ouvem rock. Mas nunca ouvi uma cenoura gritar “ai, ai” ao ser ralada. Não conheço a linguagem das cenouras, talvez se lamentem e eu não perceba, pois tenho consciência de que gritaria que nem louco se me passassem num ralador. Alguns vegetarianos tratam de respeitar aqueles que devoram. O filho de um amigo casou-se com uma vegana radical. Todos os dias, antes de comer, fazem um ato de contrição.

– Desculpe, alface, por eu comer – diz ela.

– Você é nossa amiga, e agradecemos por nos alimentar – afirma ele.

Esse é um dos motivos pelos quais não me tornei vegano. Imagino estar na mesa com executivo da televisão ou de editoras, para discutir um contrato. E dar um beijo num rabanete.

– Rabanete querido, vou te morder. É a cadeia alimentar que me obriga a isso. Perdoe-me, meu amigo.

Como, depois dessas palavras, ser respeitado ao discutir cláusulas de um contrato?

Mesmo assim, reconheço que ser vegano tem seu valor. Uma amiga atriz, adepta da dieta, parece uns 20 anos mais jovem. Sem Plástica. Quem sabe, estabelecer um laço de amor com os vegetais traz vantagens.

Caderno de Questões

Processo Seletivo – Medicina

2015.1

2

Mais me assustam os crudivoristas. Como o próprio nome diz, são adeptos de comida crua. São vegetarianos mais radicais que qualquer outro. Sem dúvida, é uma dieta menos onerosa. Na decoração, eliminam-se os fogões. Imagino que congeladores também, mesmo porque verduras cruas ficam péssimas quando descongeladas. Muita gente preconceituosa pode imaginar que fará mal ao organismo, que alimentos crus não oferecem os nutrientes necessários. Feita com cuidado, é uma dieta saudável, sim. Só que a pessoa fica chata. Deixa de sair com os amigos. Passa a viver num círculo de crudivoristas como ela. Uma vez, fui com um amigo a uma churrascaria.

– Só como salada – disse, ao servir-se.

– Mas por que veio aqui comigo?

– Coma à vontade.

O rodízio passava: maminha, alcatra... Você já devorou uma picanha sob o olhar de censura de alguém do outro lado da mesa? Botando culpa?

Ultimamente, apesar do meu namoro com os veganos, me conformei em ser o que sempre fui. Um boi gordo. Comer de forma saudável deve ser ótimo. Mas a vida vira um tédio. Gosto de reunir os amigos em torno de uma mesa, rir e comer, sem pensar no destino horrível do atum e do salmão. Ser guloso é uma vocação.

(CARRASCO, Walcyr. Revista Época, p. 148, 17 de maio de 2013.)

No fragmento “É a cadeia alimentar que me obriga a chegar a isso.”, a regência da forma verbal “obriga” é a mesma do verbo destacado em:

a

“Mas me assustam os crudivoristas.”

b

“Alguém pode me indicar um rodízio de berinjela, espinafre, escarola, alface?”

c

“Mas por que veio aqui.”

d

“[...] é que dietas alimentares se tornam uma espécie de religião.”

e

“Não conheço a linguagem das cenouras [...]”

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B
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