PUC-GO 2018/1

TEXTO

 

Na verdade os pobres não sabem nem morrer.
 (Têm quase sempre uma morte feia e deselegante.)
E em qualquer lugar do mundo eles incomodam,
viajantes importunos que os ocupam nossos lugares
mesmo quando estamos sentados e eles viajam de pé.

 

Lêdo Ivo

 

    Eu teria continuado, talvez indefinidamente, naquela vida transitória que já nem me lembrava direito por onde nem por que tinha começado. Uma noite, sei lá que hora era aquela, mas não se via mais ninguém nas ruas nem luz nas janelas, eu vinha descendo de mais além da Curva da Cobra, das minhas agora esparsas errâncias em nome da mãe de Cícero, por territórios onde, no fundo, já sabia muito bem que não ia achar mais paraibano nenhum, que, nesta cidade, de “lá” só chegam “baianos”. Tinha vindo parando pra dar uma palavra ou outra a algumas conhecidas no Campo da Tuca, sentar-me por alguns minutos nos degraus de suas portas, acompanhar com elas algum trechinho de novela, tomar um chá com bolacha, elas com enorme pena de mim, já era muito tarde, noite escura. Vinha arrastando os pés de cansada, mas teimosa, a andarilha urbana entranhada em mim, numa descida em direção à Bento pra me deitar num banco de parada de ônibus, como costumava fazer quando não tinha previsto um plano pra dormir mais abrigada e era tarde demais pra pegar transporte até a casa de Lola, a rodoviária, o pronto-socorro ou o viaduto do Arturo.

    Entrei por uma viela de terra, ladeada por terrenos que pareciam baldios, as cercas caídas. Com medo de tropeçar naquela escuridão e rolar ladeira abaixo, apalpei o interior da bolsa, achei o celular e acendi pra iluminar o chão pelo menos pro próximo passo, mas não cheguei a dar nenhum porque o fachinho de luz caiu bem em cima de manchas redondas já escuras, que pareciam sangue. Parei, sem coragem de pisar no sangue de outra pessoa, cisma que tinha desde criança lá em Boi Velho, com certeza por certeza por causa de alguma daquelas histórias apavorantes que enchiam de emoção nossos serões no sítio. O medo crescendo, movi um pouco o celular pra encontrar caminho, desviar do sangue e sair logo dali. O que vi foi mais sangue, tive a certeza de que era mesmo, traçando um rastro que descia em diagonal e entrava pelo mato. Não, Barbie, não desviei nem corri pra baixo, pra longe dali, como seria natural. Não sei o que me deu: esquecida do medo, segui o rastro como se fosse puxada por alguém me pedindo socorro e fui, entrei no mato, movendo o foco da luz que já enfraquecia, procurei, nem sabia o quê, achei um celular caído no meio do capim alto, apanhei-o sem pensar e enfiei no bolso da calça, avancei mais um pouco até dar com a luz bem na cara de um homem ainda jovem, os olhos esbugalhados, os braços abertos em cruz, e a poça de sangue já seco, escorrido de um buraco num lado do pescoço dele, mortinho da silva. Não, ele não podia mais pedir socorro, nem eu, muito menos, não podia fazer nada por ele, mas não era capaz de deixar o coitado ali sozinho, fiquei lá, coisas malucas passando pela minha cabeça, até mesmo a ideia de que tinha, afinal, achado Cícero e como era que eu ia dizer aquilo à mãe dele?... Uma vontade de chorar... Até que a bateria do meu celular descarregou de vez e o morto sumiu na treva. Então, sim, o medo voltou pra valer, não do morto, coitado, mas dos vivos que a escuridão à volta podia esconder, de quem tinha matado Cícero, que era negro e não era Cícero, ou da polícia me achar ali e me levar como assassina.

(REZENDE, Maria Valéria. Quarenta dias. 3. reimpr. Rio de Janeiro: Objetiva, 2016. p. 241-243.)

    “Parei, sem coragem de pisar no sangue de outra pessoa”, esse trecho do Texto menciona um importante componente do sistema circulatório, o sangue.

 

Sobre os componentes do sangue, assinale a seguir a única alternativa correta:

a

As hemácias são responsáveis pelo transporte de oxigênio e pela coagulação do sangue. 

b

O plasma é a parte líquida do sangue, constituído unicamente por água. 

c

Os leucócitos estão associados à defesa do organismo contra micro-organismos invasores. 

d

As plaquetas exercem importante função no sangue, principalmente na manutenção e regulação osmótica.

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Resposta
C
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