Texto
Memória é a capacidade humana de reter fatos e experiências do passado e retransmiti-los às novas
gerações através de diferentes suportes empíricos, como voz, música, imagem, textos etc. Existe
uma memória individual, que é aquela guardada por um indivíduo e se refere às suas vivências e
experiências, mas que contém também aspectos da memória do grupo social onde ele se formou.
[5] Há ainda aquilo que denominamos de memória coletiva, aquela formada pelos fatos e aspectos
julgados relevantes e que são guardados como memória oficial da sociedade mais ampla.
Ecléa Bosi em Memória e sociedade: lembrança de velhos, obra precursora no Brasil dos trabalhos
científicos que incorporam como fonte de dados para a pesquisa o ato de lembrar, já observava
que a memória não é sonho, mas trabalho. Podemos acrescentar que o ato de relembrar em
[10] conjunto, isto é, o ato de compartilhar a memória, é um trabalho que constrói sólidas pontes de
relacionamento entre os indivíduos – porque alicerçadas numa bagagem cultural comum – e, talvez
por isso, conduza à ação. Portanto, a memória compartilhada é tanto forma de domar o tempo,
vivendo-o plenamente, quanto empuxo que nos leva à ação, constituindo uma estratégia muito
valiosa nestes tempos em que tudo é transformado em mercadoria, tudo possui valor de troca.
[15] Assim, podemos perceber que o trabalho com a memória não nos aprisiona no passado, mas nos
conduz com muito maior segurança para o enfrentamento dos problemas atuais. Ao permitir a
reconstrução de aspectos desse passado recente, o trabalho com a memória também possibilita
uma transformação da consciência das pessoas, nele envolvidas direta ou indiretamente.
O Centro de Memória da Universidade Estadual de Campinas é uma instituição-memória que
[20] realiza um trabalho ligado à história social de uma região que se desenvolveu no estado de São
Paulo a partir de sua relevância como grande polo econômico, social e cultural surgido no século
XIX, durante o ápice da cultura cafeeira. Um exemplo da importância do Centro de Memória para
a reconstrução da história da sociedade campineira é o do bairro de origem teuto-brasileira de
Friburgo, situado no extremo sul do município e que existe desde 1871. Em meio a uma reforma de
[25] escola, foi encontrado um armário, infestado por cupins, que continha livros manuscritos em alemão
gótico. O Centro de Memória foi contactado pelos dirigentes da associação escolar e descobriu que
se tratava de documentação histórico-cultural muito valiosa. A partir da análise desses documentos,
foi possível reconstruir a memória de um grupo que poucos habitantes de Campinas conheciam, mas
que constitui o último resquício da imigração alemã do século XIX para a região.
[30] Com apoio da sociedade, dos pesquisadores, dos parceiros e das instituições de pesquisa, o Centro
de Memória da Unicamp vem desvendando as tramas da história da cidade e região através de
um trabalho baseado na metodologia científica e no compromisso de fazer com que a população,
seja ela de origem local ou migrante, crie ou restabeleça laços de pertencimento com a cidade e se
constitua numa sociedade composta por cidadãos cada vez mais participativos.
OLGA RODRIGUES DE MORAES VON SIMSON Adaptado de lite.fe.unicamp.br/revista.
Assim, podemos perceber que o trabalho com a memória não nos aprisiona no passado, (l. 15)
Este trecho estabelece com o segundo parágrafo o sentido de:
causa
condição
conclusão
comparação