EN 2021

TEXTO

 

Leia o texto abaixo e responda à questão.

 

PROVÉRBIOS MAGIARES

 

    Seria ingenuidade procurar nos provérbios de qualquer povo uma filosofia coerente, uma arte de viver. E coisa sabida que a cada provérbio, por assim dizer, responde outro, de sentido oposto. A quem preconiza O sábio limite das despesas, porque “vintém poupado, vintém ganhado”, replicará o vizinho farrista, com razão igual: “Da vida nada se leva.”. A experiência popular tanto fornece bons conselhos aos indecisos quanto justificativas para os velhacos, e um código baseado nos rifões não estaria menos cheio de contradições do que os códigos compilados pelos jurisconsultos.

    Mais aconselhável procurarmos nos anexins não a sabedoria de um povo, mas sim o espelho de seus costumes peculiares, os sinais de seu ambiente físico e de sua história. As diferenças na expressão de uma sentença observáveis de uma terra para outra, podem divertir o curioso e, às vezes, até instruir o etnógrafo.

    Povo marítimo, o português assinala semelhança grande entre pai e filho, lembrando que “filho de peixe, peixinho é", Já os húngaros, ao formularem a mesma verdade, não pensavam nem em peixe, nem em mar, ao olhar para o quintal, notaram que “a maçã não cai longe da árvore”.

    Desconfiado das classes superiores, o caboclo inventou o preceito: “Cada macaco no seu galho”, o húngaro foi achar inspiração no pomar para advertir que “não se devem comer cerejas com os fidalgos no mesmo prato” e acrescentar, caso alguém lhe perguntasse O porquê, “pois eles comem a fruta e cospem-te o caroço na cara”. 

    Sem sair do quintal, o camponês magiar encontra na contemplação de seus animais muitos motivos de meditação: “Quem se mistura com o farelo, os porcos o comem”, afirma para condenar as más companhias (ao passo que o português, segundo me informa meu amigo Aurélio Buarque de Holanda, declara o contrário para dizer a mesma coisa: “Quem com porcos se mistura, farelo come"). “Até a cabra velha lambe o sal”, cita ele para explicar, se não para desculpar, o comportamento de algum velhote mulherengo (caracterizado em português por um ditado parecido: “Cavalo velho, capim novo"). Às mais vezes, os fenômenos do quintal servem-lhe de consolação na sua filosofia de resignado: “Quando não há cavalo, serve o burro” (tradução portuguesa: "Quem não tem cão, caça com gato”); "O raio não parte a urtiga' (isto é: “Vaso ruim não quebra”); “Até a galinha cega encontra o grão" e “Muita gente boa cabe em pouco lugar”.

    Ao querer juntar o maior número possível de adágios húngaros, surpreende-me quão poucas são as exortações diretas a praticar o bem. A mais usada delas parece possuir, até, um matiz irônico: “Em troca de um benefício, espera o bem”, e nos lembra o nosso “esperar sentado”. Com maior frequência recomenda-se a abstenção do mal em vista das possíveis complicações: “Quem cava uma fossa para o outro, ele mesmo cairá dentro.” Como esperar, aliás, bondade do gênero humano, quando “até os santos têm as mãos viradas para si. Se a Hungria fosse à beira-mar, puxariam para si as sardinhas. Por isso, nada de colaborações, de cooperativismo: “Cavalo de dois donos tem a costas esfoladas. À solidariedade, aliás, é antes uma virtude de espertos: “Um
corvo não fura o olho de outro corvo.”

    A pobreza do povo, naturalmente, é uma das principais inspiradoras do adágio: “Pobre cozinha com água” enquanto vive, e mesmo que se enforque, “até O galho puxa o pobre”, ao passo que “o senhor é senhor até no Inferno”. O pobre também gosta de comida boa, pois sabe que “carne barata tem o suco ralo”, mas é obrigado a limitar seus apetites, pois “dias há mais que salsichas. Pelo menos sonha melhor alimentação, o que é bastante compreensível, pois, como diria o próprio Freud, “porco faminto sonha com bolota”. Interessante a fórmula usada principalmente por pessoas abastadas ao oferecerem um
farto banquete: “Somos pobres, mas vivemos bem”, que parece quase um esconjuro para reconciliar altos poderes ciumentos. [...]

    O espetáculo do mundo, que na Hungria “é do sabido" (e no Brasil “dos mais espertos”), não oferece muito conforto. É melhor a gente cuidar do que é nosso, não se meter com as coisas dos outros “varrer na frente da própria casa” e calar-se o mais possível: “Minha boca não fales, minha cabeça não há de doer.” Muito falar não adianta, pois "muita conversa tem muita borra”, e “ate cem palavras acabam numa só”.

    Se, apesar de tanta coisa errada que a gente vê no mundo, a sorte dos velhacos não deve despertar inveja, é porque “o chicote estala é na ponta”. Essa frase, compreensível apenas para quem sabe que os pastores da estepe húngara tangem o gado com chicotes compridos, terminados numa ponta de crina, cujos estalos metem medo à bicharada, serve para lembrar-nos que um destino só é completo quando chegou ao fim, ou, então, que “ri melhor quem ri por último”. Sem dúvida, os caminhos da justiça divina são muitas vezes obscuros: “Deus não bate com bordão” (ou, o que dá no mesmo, “escreve certo por linhas tortas”); mas, “o que demora, não falha", (isto é, “a justiça divina tarda, mas não falha”), porque, “se Deus quer, até o cabo da enxada dá tiro” (enquanto no Brasil “quando Deus quer, água fria é remédio”).

RÓNAI, Paulo. Como aprendi o português e outras aventuras. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. (Texto adaptado)

Leia o trecho a seguir.
 

“A quem preconiza o sábio limite das despesas, porque “vintém poupado, vintém ganhado”, replicará o vizinho farrista, com razão igual: “Da vida nada se leva.” (1º §)

 

Marque a opção em que a reescritura do trecho citado mantém o seu sentido original e respeita a norma-padrão | da língua.

a

Assim o sábio, que preconiza O limite das despesas, já que “vintém poupado, vintém ganhado”, o vizinho farrista, com razão igual, replicará: “Da vida nada se leva.”

b

O vizinho farrista replicará com igual razão: Da vida nada se leva”, a quem preconiza o sábio limite das despesas, porque '“vintém poupado, vintém ganhado.”

c

Com igual razão, o vizinho, farrista, responderá: “Da vida nada se leva” aquele que defende o limite, sábio, das despesas, já que '“vintém poupado, vintém ganhado.”

d

Então, com igual razão o vizinho, replicará, farrista: “Da vida nada se leva” a quem preconiza, sábio, O limite das despesas, pois “vintém poupado, vintém ganhado.”

e

Aquele, que preconiza o limite sábio das despesas, porque “vintém poupado, vintem ganhado”, farrista, replicará o vizinho, com igual razão: “Da vida nada se leva.”

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B
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