PUC-GO 2017/1

TEXTO 

 

IX

 

    Horas depois, teve Rubião um pensamento horrível. Podiam crer que ele próprio incitara o amigo à viagem, para o fim de o matar mais depressa, e entrar na posse do legado, se é que realmente estava incluso no testamento. Sentiu remorsos. Por que não empregou todas as forças, para contê-lo? Viu o cadáver do Quincas Borba, pálido, hediondo, fitando nele um olhar vingativo; resolveu, se acaso o fatal desfecho se desse em viagem, abrir mão do legado.

    Pela sua parte o cão vivia farejando, ganindo, querendo fugir; não podia dormir quieto, levantava- -se muitas vezes, à noite, percorria a casa, e tornava ao seu canto. De manhã, Rubião chamava-o à cama, e o cão acudia alegre; imaginava que era o próprio dono; via depois que não era, mas aceitava as carícias, e fazia-lhe outras, como se Rubião tivesse de levar as suas ao amigo, ou trazê-lo para ali. Demais, havia-se-lhe afeiçoado também, e para ele era a ponte que o ligava à existência anterior. Não comeu durante os primeiros dias. Suportando menos a sede, Rubião pôde alcançar que bebesse leite; foi a única alimentação por algum tempo. Mais tarde, passava as horas, calado, triste, enrolado em si mesmo, ou então com o corpo estendido e a cabeça entre as mãos.

     Quando o médico voltou, ficou espantado da temeridade do doente; deviam tê-lo impedido de sair; a morte era certa.

    — Certa?

    — Mais tarde ou mais cedo. Levou o tal cachorro?

    — Não, senhor, está comigo; pediu que cuidasse dele, e chorou, olhe que chorou que foi um nunca acabar. Verdade é, disse ainda Rubião para defender o enfermo, verdade é que o cachorro merece a estima do dono; parece gente.

    O médico tirou o largo chapéu de palha para concertar a fita; depois sorriu. Gente? Com que então parecia gente? Rubião insistia, depois explicava; não era gente como a outra gente, mas tinha coisas de sentimento, e até de juízo. Olhe, ia contar-lhe uma...

    — Não, homem, não, logo, logo, vou a um doente de erisipela... Se vierem cartas dele, e não forem reservadas, desejo vê-las, ouviu? E lembranças ao cachorro, concluiu saindo.

    Algumas pessoas começaram a mofar do Rubião e da singular incumbência de guardar um cão em vez de ser o cão que o guardasse a ele. Vinha a risota, choviam as alcunhas. Em que havia de dar o professor! sentinela de cachorro! Rubião tinha medo da opinião pública. Com efeito, parecia-lhe ridículo; fugia aos olhos estranhos, olhava com fastio para o animal, dava-se ao diabo, arrenegava da vida. Não

    tivesse a esperança de um legado, pequeno que fosse. Era impossível que lhe não deixasse uma lembrança.

(ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Ática, 2011. p. 30-31.)

    A partir de um projeto de modernidade europeia, o Estado-Nação construído na América espanhola tinha como inspiração a organização política e econômica da Europa.

 

Nesse sentido, é possível afirmar que o processo de formação da nação argentina ocorreu (assinale a resposta correta):

a

através da coerção da província mais abastada, Buenos Aires, e efetivou uma organização política democrática com sufrágio universal e identidade portenha.

b

pela unificação das províncias do Rio da Prata, e a construção da identidade nacional foi árdua, pois atravessou todo o século XIX. Tal construção só foi possível mediante o sistema educacional que valorizava a participação de uma pátria chamada Argentina, e não mais apenas o pertencimento às províncias. 

c

desde o primeiro momento em que conseguiu sua independência jurídica, pois o país já gozava de uma organização moderna, que unificava politicamente as várias províncias que compunham seu território. 

d

no bojo do projeto de desenvolvimento econômico e social que visava à conquista das terras indígenas, ou seja, a maior parte do território do que hoje é a Argentina. Para levá-lo a cabo, travaram guerras sangrentas para anexar tais territórios, e isso foi feito inspirado no modelo brasileiro de colonização.

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B
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