IFBA 2014
TEXTO III
Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
(...)
[5] Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
[10] Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
[15] Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
(...)
[20] Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
[25] Eu sou a Coisa, coisamente.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. In: Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984.
A leitura do fragmento do poema permite inferir que
o nome das pessoas é tão importantes quanto as marcas dos produtos consumidos por elas.
na sociedade atual, é indispensável que façamos anúncio das marcas que utilizamos no dia a dia.
o eu lírico sente um profundo orgulho de portar consigo marcas de produtos caros e famosos.
as pessoas são vistas como meros anúncios, objetivando apenas ostentar as marcas que consomem em detrimento de sua própria identidade.
o consumismo é o reflexo direto de uma sociedade composta por pessoas de sucesso, que consomem porque têm poder aquisitivo para tal.
E mais: nota TRI a todo o momento.
