TEXTO II
GATES E JOBS
Quando as órbitas se cruzam
Em astronomia, quando as órbitas de duas estrelas
se entrecruzam por causa da interação gravitacional,
tem-se um sistema binário. Historicamente, ocorrem
situações análogas quando uma era é moldada pela
[5] relação e rivalidade de dois grandes astros orbitando:
Albert Einstein e Niels Bohr na física no século XX, por
exemplo, ou Thomas Jefferson e Alexander Hamilton na
condução inicial do governo americano. Nos primeiros
trinta anos da era do computador pessoal, a partir do
[10] final dos anos 1970, o sistema estelar binário definidor
foi composto por dois indivíduos de grande energia, que
largaram os estudos na universidade, ambos nascidos
em 1955.
Bill Gates e Steve Jobs, apesar das ambições
[15] semelhantes no ponto de convergência da tecnologia e
dos negócios, tinham origens bastante diferentes e
personalidades radicalmente distintas.
À diferença de Jobs, Gates entendia de
programação e tinha uma mente mais prática, mais
[20] disciplinada e com grande capacidade de raciocínio
analítico. Jobs era mais intuitivo, romântico, e dotado de
mais instinto para tornar a tecnologia usável, o design
agradável e as interfaces amigáveis. Com sua mania de
perfeição, era extremamente exigente, além de
[25] administrar com carisma e intensidade indiscriminada.
Gates era mais metódico; as reuniões para exame dos
produtos tinham horário rígido, e ele chegava ao cerne
das questões com uma habilidade ímpar. Jobs encarava
as pessoas com uma intensidade cáustica e ardente;
[30] Gates às vezes não conseguia fazer contato visual, mas
era essencialmente bondoso.
“Cada qual se achava mais inteligente do que o
outro, mas Steve em geral tratava Bill como alguém
levemente inferior, sobretudo em questões de gosto e
[35] estilo”, diz Andy Hertzfeld. “Bill menosprezava Steve
porque ele não sabia de fato programar.” Desde o
começo da relação, Gates ficou fascinado por Jobs e
com uma ligeira inveja de seu efeito hipnótico sobre as
pessoas. Mas também o considerava “essencialmente
[40] esquisito” e “estranhamente falho como ser humano”, e
se sentia desconcertado com a grosseria de Jobs e sua
tendência a funcionar “ora no modo de dizer que você
era um merda, ora no de tentar seduzi-lo”. Jobs, por sua
vez, via em Gates uma estreiteza enervante.
[45] Suas diferenças de temperamento e personalidade
iriam levá-los para lados opostos da linha fundamental
de divisão na era digital. Jobs era um perfeccionista que
adorava estar no controle e se comprazia com sua
índole intransigente de artista; ele e a Apple se tornaram
[50] exemplos de uma estratégia digital que integrava
solidamente o hardware, o software e o conteúdo numa
unidade indissociável. Gates era um analista inteligente,
calculista e pragmático dos negócios e da tecnologia;
dispunha-se a licenciar o software e o sistema
[55] operacional da Microsoft para um grande número de
fabricantes.
Depois de trinta anos, Gates desenvolveu um
respeito relutante por Jobs. “De fato, ele nunca entendeu
muito de tecnologia, mas tinha um instinto espantoso
[60] para saber o que funciona”, disse. Mas Jobs nunca
retribuiu valorizando devidamente os pontos fortes de
Gates. “Basicamente Bill é pouco imaginativo e nunca
inventou nada, e é por isso que acho que ele se sente
mais à vontade agora na filantropia do que na
[65] tecnologia”, disse Jobs, com pouca justiça. “Ele só
pilhava despudoradamente as ideias dos outros.”
(ISAACSON, Walter. Steve Jobs: a biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 189-191. Adaptado)
O texto II desenvolve-se basicamente pela oposição entre Jobs e Gates. Leia as inferências abaixo.
I. Reconhecia as qualidades do adversário em meio aos inúmeros defeitos que nele apontava.
II. A racionalidade era o elemento estruturante de sua personalidade.
III. Era genial, contudo arrogante e intransigente.
IV. Era direto, incisivo e apaixonante.
V. Primava pela praticidade dos produtos que criava.
A(s) inferência(s) que se relaciona(m) a Bill Gates é(são), apenas:
I.
I e II
IV e V.
II, III e IV.