EPCAR 2012

Texto II

Eu acuso

 

Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...) (Émile Zola)

 

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em

milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos,

escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a

escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando

que teve danos morais ao ter que virar noites estudando

para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado

“dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora,

ameaças constantes (...). O ápice desta escalada

macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou

com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua

esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe,

pela irresponsabilidade que há muito vem tomando

conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa

escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao

bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi

elevada a método de ensino e imperativo de

convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se

nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração

do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não

reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois

“temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás,

“prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu

conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando

bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de

contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a

avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo

paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários

setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que

mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter

conhecimento é ser ‘crítico’.” (...)

Estamos criando gerações em que uma parcela

considerável de nossos cidadãos é composta de adultos

mimados, despreparados para os problemas,

decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com

conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de

que “o mundo lhes deve algo”.

Um desses jovens, revoltado com suas notas

baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de

lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo

o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente, deverão ser

concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao

tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito

de não ser condenado em pena maior do que a prevista

em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido

processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser

apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal

ao autor do homicídio covarde virá do promotor de

justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de

Émile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás

do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que

pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao

errado e vice-versa; (...)

EU ACUSO os burocratas da educação (...)

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do alunocliente,

(...), cujo boleto hoje vale muito mais do que seu

sucesso e sua felicidade amanhã; (...)

EU ACUSO os alunos que protestam contra a

impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas

provas, assim como ACUSO os professores que, vendo

tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a

devida punição.

Uma multidão de filhos tiranos, que se tornam

alunos-clientes, serão despejados na vida como adultos

eternamente infantilizados e totalmente despreparados,

tanto tecnicamente para o exercício da profissão,

quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e

decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição

ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos

preparo na delicada e essencial arte que é lidar com

aquele ser complexo e imprevisível que podemos

chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda

lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de

adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se

não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a

culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é

do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna

vítima. (...) Quando eu era criança, eu batia os pés no

chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você

pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por

qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das

escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no

peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É

hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos

mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova

cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e

universidades é fazermos as pazes com os bons e

velhos conceitos de seriedade, responsabilidade,

disciplina e estudo de verdade.

 

(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes – adaptado) Igor Pantuzza Wildmann, Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário. Fonte: Jornal Impacto

Assinale a alternativa em que a reescrita do trecho abaixo mantém a correção gramatical, o sentido original presente no texto, a coesão e a coerência.

 

“... um estudante processa a escola e o professor que lhe

deu notas baixas...”

a

A escola e o professor é processado por um aluno que recebeu nota baixa deles.

b

O professor de uma escola foi processado por um estudante porque dera a ele notas baixas.

c

A escola e o professor que dava notas baixas ao aluno fora por aquele processado.

d

A escola e o professor são processados por um estudante porque este recebeu notas baixas daquele.

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D
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