TEXTO II
A VERDADEIRA LEI DE GÉRSON
Raul Marinho Gregorin
Você se lembra daquele célebre comercial do
cigarro Vila Rica, onde nosso tricampeão Gérson falava
a famosa frase: “...Porque você tem que levar
vantagem em tudo, cerrrto?”. A frase teve tanto
[05] impacto que acabou sendo criada a “Lei de Gérson”, que
simboliza o oportunismo e a falta de escrúpulos típicas de
uma grande parcela de nossa sociedade. (...)
Concordo que nossa postura oportunista
realmente contribui para nos manter neste estado de
[10] atraso econômico e cultural em que vivemos. Só que a
“Lei de Gérson”, na verdade é muito mais antiga que o
próprio. No excelente livro “Mauá, Empresário do
império”, de Jorge Caldeira (Ed. Companhia das Letras),
percebe-se que há quase duzentos anos atrás esta lei já
[15] era cumprida. Aliás, essa deve ser a lei mais antiga do
Brasil, pois desde as capitanias hereditárias nossa
história é pontilhada de exemplos de oportunismo e falta
de escrúpulos. A própria escravidão não deixa de ser
uma mostra do viés ético de nossa sociedade desde
[20] tempos imemoriais, mas isso já é outra história.
Eu não conheço a biografia do Gérson, muito
menos do publicitário que criou a frase e o comercial do
Vila Rica. Mas acho muito improvável que o Gérson real
seja um oportunista sanguinário como ficou sendo sua
[25] imagem. Nem acredito que o diretor de criação da
agência poderia imaginar que esta frase seria usada mais
de vinte anos depois para designar esta nossa
característica.
Nossa língua é ferina. Quando a Volkswagen
[30] lançou o Fusca com teto solar no final da década de ‘60’,
as vendas despencaram depois que passou a ter a
conotação de “carro de chifrudo”. A VASP na década de
70 criou um voo noturno ligando São Paulo ao Guarujá
para atender aos executivos que deixavam suas famílias
[35] no balneáreo e passavam a semana trabalhando na
capital. O nome do voo era “Corujão” devido ao horário.
Não demorou muito, o voo passou a ser apelidado de
“Cornudão”, pelo fato das esposas ficarem na praia
enquanto os maridos ficavam na cidade. A VASP teve
[40] que cancelar a linha por falta de passageiros.
E óbvio que a VW tinha introduzido o teto solar
baseado no fato do Brasil ser um país quente e
ensolarado, perfeito para aquele opcional. Só que o
consumidor preferia ficar passando calor a ser visto
[45] dirigindo um carro com um buraco no teto para “deixar os
chifres de fora”. O voo corujão era perfeito,
especialmente na época em que não havia Piaçaguera e,
para chegar ao Guarujá de carro na alta temporada, o
motorista tinha que enfrentar horas de fila na balsa. Mas
[50] era melhor demorar oito ou dez horas de carro do que ir
de avião, em meia hora, num voo chamado “Cornudão”...
Com o comercial do Gérson foi a mesma coisa.
Levar vantagem em tudo não significa que os outros tem
que levar desvantagem. O oportunismo foi incorporado à
[55] frase por quem a leu/ouviu, não por quem a
escreveu/disse. O problema é que passou a ficar (para
usar um conceito atual) “politicamente incorreto” levar
vantagem em alguma coisa.
Na verdade, parece que nossa sociedade se
[60] divide em dois grandes blocos: um que leva vantagem
em tudo (no sentido pejorativo) e outro que não pode
levar vantagem em nada. Acontece que dá para levar
vantagem em tudo sem fazer com que os outros saiam
em desvantagem. Você não precisa esmagar a outra
[65] parte para sair ganhando.
(http://www.geocities.ws/cp_adhemar/leidegerson.html. Acesso em: 10 abril 2017. Texto revisado conforme a nova ortografia.)
TEXTO III
Observe a seguir um dos cartazes da campanha publicitária sobre o cigarro Vila Rica – que circulou no Brasil na década de 1970 – e deu origem à chamada Lei de Gérson, conforme citado no 1º parágrafo do texto II. O personagem do cartaz é o jogador de futebol Gérson, já citado também no texto II.
A partir da leitura da peça publicitária, e considerando as informações do texto II sobre a “Lei de Gérson”, analise as afirmativas a seguir como verdadeira ou falsas.
I. A marca do cigarro Vila Rica aproveita a popularidade do famoso jogador Gérson para alavancar a venda do produto.
II. A “Lei da vantagem”, empregada pela arbitragem no futebol, possui regras; essas regras estão explicitadas na argumentação do texto II e na peça publicitária.
III. O vocábulo “leve” pode ser entendido tanto como verbo quanto como adjetivo em ambas as ocorrências no cartaz.
IV. No cartaz, o advérbio “também” funciona como um termo fundamental para induzir a uma proximidade entre Gérson – um ídolo do futebol – e o público; e, dessa forma, criar a estratégia de persuasão necessária à propaganda.
Está correto o que se afirma apenas em
I, II e III
II e III
I e IV
III e IV